Gostaria de incidir este artigo sobre a Autonomia, numa vertente que n\u00e3o lhe \u00e9, geralmente e diretamente associada, mas que lhe est\u00e1 impl\u00edcita e alicer\u00e7a um pilar fundamental para o seu robustecimento. Refiro-me \u00e0 soberania alimentar.<\/p>\n\n\n\n

J\u00e1 em 2016, aquando da apresenta\u00e7\u00e3o da candidatura do PAN \u00e0s elei\u00e7\u00f5es legislativas regionais, debrucei-me e elenquei os pilares fundamentais e priorit\u00e1rios para o garante da Autonomia, focando a necessidade de garantir a autossufici\u00eancia alimentar e definindo como priorit\u00e1rio e urgente atender-se \u00e0 necessidade de atingir a soberania alimentar como refor\u00e7o do processo auton\u00f3mico.<\/p>\n\n\n\n

A produ\u00e7\u00e3o de trigo foi, durante s\u00e9culos, uma das culturas agr\u00edcolas com maior peso nos A\u00e7ores, chegando at\u00e9 \u00e0 segunda metade do XVIII como o principal produto de exporta\u00e7\u00e3o do arquip\u00e9lago.<\/p>\n\n\n\n

Quando o fen\u00f3meno da globaliza\u00e7\u00e3o era um conceito ainda associado e consequente da expans\u00e3o ultramarina portuguesa, os A\u00e7ores assumiram um papel determinante na capacidade aliment\u00edcia do reino portugu\u00eas, chegando inclusivamente \u00e0s pra\u00e7as portuguesas de \u00c1frica.<\/p>\n\n\n\n

Mas as op\u00e7\u00f5es decorrentes da Pol\u00edtica Agr\u00edcola Comum, aliada \u00e0 reconvers\u00e3o da utiliza\u00e7\u00e3o dos solos agr\u00edcolas para o monop\u00f3lio da lavoura, vieram colocar os A\u00e7ores em situa\u00e7\u00e3o de subservi\u00eancia perante os mercados agr\u00edcolas estrangeiros, ficando desde ent\u00e3o dependentes da capacidade produtiva, das cadeias de distribui\u00e7\u00e3o e da tabela de pre\u00e7os institu\u00edda, com todas as condicionantes que da\u00ed poder\u00e3o sobrevir.<\/p>\n\n\n\n

A leitura \u00e9 relativamente f\u00e1cil de se fazer e evidente de analisar: quanto menos produzirmos para consumo regional, maior ser\u00e1 a nossa necessidade de importa\u00e7\u00e3o. Isto resulta, naturalmente, numa depend\u00eancia alimentar externa, na fragiliza\u00e7\u00e3o da nossa economia e, consequentemente, da nossa Autonomia.<\/p>\n\n\n\n

Transmutamos de celeiro de Portugal para a inteira depend\u00eancia dos mercados externos, levando a um decl\u00ednio na balan\u00e7a comercial a\u00e7oriana. J\u00e1 em 2019 essa depend\u00eancia ficou patente e foi sentida pelos florentinos ao verem condicionado o abastecimento alimentar, na incapacidade de atracagem de barcos no porto das Lajes. Agora, o condicionalismo chega a todos os ilh\u00e9us, com a quebra de produ\u00e7\u00e3o e cadeia de distribui\u00e7\u00e3o do maior celeiro da Europa: a Ucr\u00e2nia.<\/p>\n\n\n\n

A guerra que assola a Ucr\u00e2nia coloca ainda mais a nu a necessidade de se apostar e de ter a capacidade de produ\u00e7\u00e3o e armazenamento que nos permita assumir uma posi\u00e7\u00e3o mais confort\u00e1vel em termos de depend\u00eancia de mercados externos. Mas para que isto aconte\u00e7a urge reverter a produ\u00e7\u00e3o cereal\u00edfera, com mais incid\u00eancia no trigo, e isto s\u00f3 ser\u00e1 poss\u00edvel havendo um reajuste nos crit\u00e9rios pol\u00edticos de investimento agr\u00edcola e pela elabora\u00e7\u00e3o de uma estrat\u00e9gia de pol\u00edticas agr\u00e1rias.<\/p>\n\n\n\n

Uma produ\u00e7\u00e3o cereal\u00edfera extensiva, adequada e com base nas potencialidades produtivas de cada ilha do nosso arquip\u00e9lago, ser\u00e3o certamente suficientes para suprir as necessidades arquipel\u00e1gicas e garantir que a base da nossa alimenta\u00e7\u00e3o e o elemento que dita sempre a infla\u00e7\u00e3o generalizada, o p\u00e3o, resista a eventos externos.<\/p>\n\n\n\n

A nossa autonomia tamb\u00e9m se constr\u00f3i e fortalece na capacidade de sermos autossustent\u00e1veis e suficientemente independentes dos mercados externos. A produ\u00e7\u00e3o de trigo mais que uma necessidade, \u00e9 neste momento uma urg\u00eancia.<\/p>\n\n\n\n