Ao emblemático episódio em que o Secretário Regional da Agricultura enverga presunçosamente em praça pública um chapéu com o alto patrocínio da empresa Bayer, somam-se agora as declarações proferidas no Fórum Mundial da Cultura Taurina, que caracterizam a tourada como “a melhor escola?de?cidadania” e em que nenhum animal é tão protegido como o touro – uma retórica preocupante, especialmente por ser proferida por quem se propõe ser exemplo e representante da sociedade açoriana, promotor do respeito, compaixão e dignidade. Mas, não nos esqueçamos dos touros do Senhor Secretário enquanto agentes do combate à emergência climática.
De acordo com a Direção-Geral da Educação “A educação para a?cidadania?visa contribuir para a formação de pessoas responsáveis, autónomas, solidárias, que conhecem e exercem os seus direitos e deveres em diálogo e no respeito pelos outros, com espírito democrático, pluralista, crítico e criativo” – adjectivos que não se coadunam com o que tauromaquia difunde e, muito menos, com a repescagem da sorte de varas, que de sorte nada tem.
A filosofia pré-histórica deste Executivo cinge-se à dor e sofrimento dos animais enquanto ferramentas pedagógicas para instruir disciplina e trabalho em grupo. Se a tourada é a melhor escola de cidadania que o Sr. Secretário conhece, estamos em boa hora de considerar outras opções de ensino.
A alegação de que a tauromaquia “tem uma raiz profunda no povo açoriano” é, no mínimo, um argumento frágil, que desconsidera a voz da maioria que se opõe a estas práticas, sugerindo uma total desconexão com as preocupações atuais da sociedade.
A par disso, a afirmação de que não há “nenhum animal que seja tão protegido como o touro, em legislação, em regras” faz emergir algumas questões: proteger do sofrimento ou proteger o sofrimento? Proteger o definhar animal em plena praça pública à custa do entretenimento?
Os Açores têm que se posicionar como uma região moderna e progressista, que valoriza a educação e o respeito por todos os seres, no entanto, a insistência em reviver esta discussão, especialmente num momento em que a sociedade avança em direção a uma maior proteção dos direitos dos animais, é um retrocesso inaceitável.
A verdadeira cidadania não se constrói sob o sofrimento, mas sim pela promoção do bem-estar e da dignidade de todos os seres vivos. A educação é uma ferramenta de instrução para a importância do respeito por todas as formas de vida e não para glorificar tradições que desafiam esses princípios. Não à sorte de varas! Não à tauromaquia!