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Financiar a tortura animal: não aplicável

Em Janeiro, o PAN/Açores entregou um requerimento ao Governo que se debruçava sobre o financiamento público do setor tauromáquico, cuja réplica revelou uma série de incongruências e ironias, envolvidas numa obliquidade visível desde a primeira abordagem.  

Apesar de dúbio o valor do financiamento à tauromaquia em 2024, segundo o Governo, parte deste destinou-se à aquisição de meias e calças para um grupo de forcados terceirense, e à organização de arraiais taurinos – temos os cofres públicos a bancar desfiles de moda em passadeiras vermelhas tingidas de sangue. 

Nesta arena exibe-se um desfile de paradoxos, que opõe a isenção de financiamento ao setor tauromáquico em 2025 à criação de um regime de comparticipações financeiras extraordinárias, no valor de 150 mil euros, para detentores de animais de raça brava, munindo-se da “salvaguarda da segurança das pessoas, tratadores e animais” para legitimar uma atividade cuja natureza promove a tortura e o sofrimento de animais. Financiar a tauromaquia com verbas do erário público é um desvio de prioridades que ignora o bem-estar animal e humano. 

No que respeita a possíveis patrocínios tauromáquicos em 2025, é declarada ausência de candidaturas ou pedidos de apoio, invocando-se um despacho de calamidade pública, devido ao incêndio no HDES, para legitimar uma atividade que coloca em risco a saúde e a segurança das pessoas, numa altura em que a Região enfrenta uma grave crise nos serviços de saúde – uma amarga ironia, que reforça o compêndio das contradições, às quais se soma agora a fuga às (ir)responsabilidades na fundamentação do patrocínio do fórum taurino, cuja resposta se limita a um singelo “não aplicável”, numa demonstração de opacidade e insensatez, como quem foge com o “rabo à seringa”.  

Ignorar a insistência em patrocinar atividades que instam à dor e sofrimento animal enquanto associações de proteção animal enfrentam situações de estrangulamento financeiro, em virtude do escasso apoio governamental, é uma afronta à ética e à justiça social, numa clara desconexão com os valores contemporâneos de empatia e respeito pelos direitos dos animais. 

Porque recai o protagonismo da “má sorte” sobre o Secretário da Agricultura? Temos uma Secretária da Cultura silenciada nos assuntos da sua tutela? Deve a cultura do sofrimento animal ter mais respaldo do que a que enaltece a vida e o bem-estar?