Divulgação de imagens íntimas, contacto físico, coerção, chantagem e tentativa de forçar ou convencer o outro são comportamentos compreendidos na lista de condutas sexualmente violentas e condenáveis. Nos dias de hoje, a violência sexual transcende o toque físico ou as carícias sem consentimento, manifestando-se de formas insidiosas e devastadoras, que abarcam uma realidade que se expande ao espaço cibernético.
O crescimento das redes sociais fez-se acompanhar de uma conectividade sem precedentes, mas abriu portas à intensificação de casos de violência sexual, que invadiram e transformaram o digital em terreno fértil para a perpetuação de abusos, como a criação de grupos em plataformas digitais onde a partilha de imagens íntimas ou conteúdo explícito se tornou comum, ilustrando como os crimes sexuais se infiltraram no cotidiano dos jovens – alvos fáceis de manipulação e exposição.
A procura pelo exercício de poder ou controle sobre o outro – sobretudo sobre as jovens e mulheres, a humilhação, exaltação e a banalização da intimidade alheia estão, frequentemente, na origem destes actos, banalizados e mascarados pela aparente anonimidade da internet, que produzem consequências irreparáveis e transcendem faixas etárias ou vínculos interpessoais.
Não obstante constituir um fenómeno que ocorre entre estranhos, a violência sexual está, muitas vezes, enraizada em relações abusivas, em que a vítima se sente pressionada a explorar a sua sexualidade de forma não desejada. É uma forma de violência de género? A misoginia é uma “trend”?
A operação ‘Stream’, que confiscou uma plataforma de partilha de conteúdos pornográficos que vitimou 39 crianças, é um exemplo flagrante de como a violência sexual se adapta e prolifera através das novas tecnologias, refletindo uma sociedade que ainda luta para compreender e combater as nuances deste fenómeno, cada vez menos exceção e recorrente trágica norma.
O combate a este fenómeno passa pela educação preventiva, através da realização de campanhas de sensibilização nas escolas, com recurso a métodos acessíveis e interativos que ajudem a desmistificar a violência sexual e a promover o entendimento do consentimento e dos direitos de cada indivíduo enquanto base de qualquer interação, física ou virtual, criando espaços seguros para que as vítimas possam denunciar sem medo de represálias.
Que nesta era digital possamos usar a tecnologia para conectar, educar e transformar, mas nunca para destruir.

