A sessão plenária de Setembro deixou a nu a incoerência de um dos partidos que suporta este Governo: com poucas horas de intervalo, protagonizou dois discursos diametralmente opostos no que concerne à gestão da despesa pública regional.
No período da manhã, ergueu-se a bandeira da urgência reformista, exigindo um debate sobre a redução e reforma da despesa pública, no qual foi reiterada a “insustentabilidade do modelo vigente”, e apontados os máximos históricos da dívida pública regional como prova cabal da necessidade de cortar nos encargos do sector público empresarial.
Sem esquecer que esse Partido há muito que suporta este Governo e as suas (des) governanças, aprovando os sucessivos orçamentos que poderão culminar num resgate financeiro. Em suma, cúmplice deste colapso financeiro que nos coloca de joelhos à frente da República.
Durante o debate de urgência, defenderam uma visão “liberal e reformista”, com vista a implementar uma estratégia que assegure a gestão responsável dos recursos regionais, reforçando a narrativa de rigor e reforma urgente, aparentemente alinhada com uma postura de contenção e responsabilidade fiscal.
Por seu turno, o período da tarde guardava o plot twist, quando o mesmo partido que apelara à contenção da despesa pública se insurgiu contra os “aumentos arbitrários” das tarifas portuárias, afirmando que as mesmas penalizavam os empresários marítimo-turísticos e os utilizadores das marinas, confrontados com taxas “nunca antes existentes”. Apelou-se à uniformização das tarifas portuárias – e a uma internalização dos custos pela empresa pública, a par de se exigir compensações para os trabalhadores vítimas das “injustiças de 2024”.
Estaremos perante hipocrisia política em horário repartido, em que de manhã se exige o corte na despesa pública e a reforma do sector empresarial regional e, de tarde, quer reduzir-se receitas e aumentar encargos, exigindo compensações e subsídios, que pressionam o orçamento das empresas públicas e, por extensão, a despesa pública regional – a mesma que se, segundo o partido, se encontra insustentável? Esta duplicidade é uma contradição estrutural que contribui para a erosão da credibilidade política.
No entanto, ao que parece, a ânsia de se vestir o fato de reformista liberal não supera a tentação populista de agradar sectores específicos, ainda que isso implique contrariar os princípios proclamados momentos antes.
A matemática orçamental não se compadece com discursos populistas que tentam agradar a todos os públicos em todas as frentes. A política não é um menu à la carte onde se escolhe o que agrada a cada eleitorado. A reforma da despesa pública exige escolhas difíceis e, muitas vezes, impopulares – caso contrário, o discurso reformista não passa de um verniz ideológico para encobrir prácticas contraditórias.
