A (in)ação do Governo Regional na proteção dos mais vulneráveis tornou-se previsível, perante o festim de incentivos públicos a práticas arcaicas e cruéis de setores que perpetuam a exploração animal para entretenimento e regozijo pessoal de poucos. Opta-se por financiar infraestruturas que respaldam atividades obsoletas.
A concessão de um apoio de 30 mil euros ao Clube Cinegético e Cinófilo – que defende a caça como herança cultural – destinado à construção de um canil para cães utilizados na caça, levanta questões éticas e políticas, sobretudo quando as associações de proteção animal se debatem com dificuldades financeiras crónicas, sem prejuízo de reforçar a ideia de que determinados interesses são priorizados em detrimento do bem comum e de associações sem fins lucrativos que lutam pela sua sobrevivência.
É, oficiosamente, conhecida a taxa de abandono dos animais utilizados na caça, um sem número de cães que ficam para trás durante as caçadas. Sem esquecer o reiterado confinamento a que são sujeitos dentro das jaulas dos próprios canis ou a parca fiscalização no cumprimento das regras de bem-estar animal.
Deve o apoio a uma prática controversa, que vê os animais como instrumentos, constituir prioridade para um Governo cuja função é (ou deve ser) reforçar a proteção animal? O apoio a atividades cinegéticas, ignorando o trabalho vital das associações de proteção animal, é um golpe de classe sobre a ética da convivência e a responsabilidade social.
Se parte do valor concedido a esse Clube se destinasse às associações de animais, quantas vidas poderiam ser salvas? Quantos animais poderiam receber os devidos cuidados? Quantos cães, gatos e cavalos resgatados teriam uma segunda oportunidade?
Às associações que promovem o bem-estar animal cabem tostões, enquanto às entidades privadas que violam esse bem-estar são dados “milhões” – inclusive tauromaquia.
Um insulto ao trabalho das associações e uma manifestação clara de que as vozes que se levantam em defesa da proteção dos direitos dos animais não encontram suficiente ressonância nas esferas de decisão.
Uma gestão pública responsável reflete-se na simbiose entre pessoas e animais e não em incentivos que encorajam práticas anacrónicas. Serve de alerta à reflexão sobre as prioridades de uma sociedade que deve, todos os dias, escolher se caminha ao encontro da empatia ou da indiferença. A escolha?é?nossa.

