Soubemos hoje que António Costa e Fernando Medina farão parte da comissão de honra da candidatura de Luís Filipe Vieira à presidência do Benfica.
Este caso vem juntar-se aos casos recentes de ida da deputada Cláudia Santos para o Conselho de Jurisdição da Federação Portuguesa de Futebol ou da ida do deputado Tiago Barbosa Ribeiro e dos autarcas Rui Moreira, Eduardo Vítor Rodrigues e Manuel Pizarro para o Conselho Superior do Futebol Clube do Porto no âmbito da candidatura de Jorge Nuno Pinto da Costa, que se vieram a juntar ao caso de Marcos Perestrello, que recentemente assumiu o cargo de deputado e que é secretário de sociedade da Belenenses SAD.
Todas estas situações de ligação próxima da política ao futebol não são admissíveis do ponto de vista ético, porque abrem a porta a que o amor ao clube se possa sobrepor ao compromisso com o interesse público, que deverá sempre nortear qualquer titular de um cargo político no exercício do cargo. A salvaguarda da imagem externa do Parlamento, do Governo e dos Órgãos Autárquicos recomendavam que este tipo de situações não sucedesse, uma vez que um dos principais problemas da sociedade portuguesa é precisamente o excesso de promiscuidade entre a política e o futebol e as ligações perigosas e pouco transparentes associadas a este mundo. De resto, essas ligações são mais que óbvias quando a própria EUROPOL considera a corrupção no desporto como uma das 12 principais actividades criminosas organizadas na União Europeia.
No caso do apoio de Costa a Vieira, para além dos óbvios problemas éticos já assinalados, temos um posicionamento a favor de alguém que está a braços com a justiça com casos de corrupção, fraude fiscal, lavagem de dinheiro ou de recebimento indevido de vantagem, e que até aos prejuízos do Novo Banco e da Caixa Geral de Depósitos está ligado. Não haveria mal nenhum que Costa viesse a público defender a presunção de inocência de Luís Filipe Vieira, o problema é que com este gesto público de apoio inequívoco está a dar um certificado de honra, de credibilidade e de probidade a alguém que já deu várias provas de que não é merecedor de tal certificado.
É importante não esquecer que a invocação de que o faz como adepto não colhe, porque conforme disse o próprio António Costa, em Abril de 2016 relativamente a João Soares, “nem à mesa do café podem deixar de se lembrar que são membros do Governo”. Portanto, como primeiro-ministro Costa em nenhum momento pode colocar o adepto acima do titular de cargo político, e não pode ser incoerente ao ponto de, na mesma semana que publica a estratégia nacional de combate à corrupção, se colocar ao lado de um figurão do mundo do futebol envolvido em casos judiciais tão graves.
Face a este caso e aos restantes casos recentes de ligação institucional de deputados ao mundo futebol, é importante que o quanto antes o Parlamento faça a sua parte no combate a estas promiscuidades e tenha a coragem de aprovar a iniciativa do PAN que, seguindo o modelo já em vigor para os magistrados, impede a ocupação de cargos em órgãos de clubes de futebol. Esperemos, também, que António Costa volte atrás nesta sua decisão que descredibiliza a política e afasta os cidadãos, a bem da transparência e da salvaguarda do interesse público.