Santa Maria da FeiraSaúde e Alimentação

Saúde Mental do concelho de Santa Maria da Feira

Psicólogos - Saúde Mental

A 18 de agosto, aaconcelhia do PAN de Santa Maria da Feira esteve reunida com especialistas da área da Saúde Mental do concelho para perceber o estado da Saúde Mental em Santa Maria da Feira e as dificuldades das instituições/especialistas em dar resposta às necessidades dos e das feirenses.

O PAN, em fevereiro deste ano, no apresentou uma Proposta de Lei n.º 5/XIV/1.ª, em que recomenda ao Governo o reforço de estratégias para a prevenção e de respostas ao impacto na Saúde Mental.

Com uma postura de preocupação e de alerta, recentemente, a OMS – Organização Mundial de Saúde divulgou novas orientações sobre cuidados com saúde mental que combatam violações de direitos humanos e apoiem atividades da vida diária.

No que concerne aos dados estatísticos da região onde nos inserimos, nomeadamente a Região do Entre Douro e Vouga (EDV), que é constituída pelos municípios de Santa Maria da Feira, Oliveira de Azeméis, Vale de Cambra, Arouca e São João da Madeira, podemos afirmar que existe uma lacuna ao nível da saúde mental comunitária e que urge a necessidade de se implementar estruturas adequadas que possam dar uma resposta contínua e estruturada na área da saúde mental. No Plano de Ação EDV 2020, elaborado pelos Concelhos da região, a partir dos diagnósticos sociais, podemos ler que “são necessidades identificadas a disponibilização de centros de recursos para tornar mais eficaz e mais rápida a intervenção de equipas técnicas especializadas, o aumento e nalguns casos mesmo criação de resposta pública ao nível da saúde mental e psiquiátrica, a aproximação às populações mais distantes e com menor grau de mobilidade dos serviços on-line dos municípios, a valorização e estruturação das ações de voluntariado.”


Neste sentido, no Eixo denominado de Crescimento Inclusivo, refere-se o programa de Ação EDV Social +, onde se destaca a necessidade de se criarem na região equipamentos para atividades ocupacionais para pessoas portadoras de doença mental e de se fomentar atividades de literacia em saúde.

Neste encontro, o PAN constatou que “a Saúde Mental está incendiada”, porque é visível um desgaste dos profissionais. Observa-se que este tema tem pouca abordagem no país, existem ideias-estigma que condicionam toda esta área e a falta de diálogo entre os intervenientes dificulta encontrar respostas às necessidades detetadas. Para além disso, há pouco investimento público financeiro nesta área que seria essencial para o desenvolvimento na comunidade de mais estratégias de intervenção.

Os técnicos especializados nesta área apelam à importância de se ouvir as pessoas que experienciam problemas de Saúde Mental e dar espaço para que as mesmas possam ter uma voz ativa no seu tratamento. Reforçam que com o diálogo constrói-se um caminho e só através da escuta ativa e da compreensão da pessoa em crise, assim como o envolvimento da sua rede social desde o início, é possível um tratamento eficaz. As pessoas com experiência de doença mental não podem depender apenas de medicamentos, consultas rápidas e hospitalização para a intervenção em crise, pois essa intervenção dissociada do contexto em que o utente se encontra é apenas temporária e não promove uma recuperação completa. A pessoa que experiencia uma situação de crise deve estar sempre envolvida no processo de recuperação, sendo ouvida, respeitada e validada. Temos de apostar nas relações humanas porque sem uma relação não é possível existir ajuda.

É importante não esquecer que a pessoa com experiência de doença mental tem um percurso que engloba a sua família, emprego, sociedade e todo o ambiente que o rodeia e que se envolve, sendo que a doença causa tremendas perturbações na vida daqueles que são afetados, nas suas famílias e na comunidade envolvente. As pessoas com experiência de doença mental tendem a apresentar um nível baixo de qualidade de vida, sentindo-se muitas vezes incapacitadas de participar em atividades laborais e de lazer, assim como de se integrar na comunidade envolvente. Neste sentido, a questão da pessoa estende-se à sua família e cuidadores, que têm de fazer diversos ajustes e compromissos, que os impedem de atingir o seu pleno potencial no trabalho, nas relações sociais e no lazer. Nas comunidades, o impacto atinge um patamar social e económico que se deve ao estigma associado à doença, assim como ao custo da prestação de cuidados, à perda de produtividade e à falta de respostas adequadas na área. A crise económica, o desemprego e a falta de condições básicas de vida vêm realçar estes problemas que contribuem para que as pessoas se sintam fragilizadas e tenham dificuldade em lidar com situações difíceis.

No nosso concelho nota-se uma grande diferença entre cidade e freguesias devido à falta de acessibilidades e de recursos humanos, o que dificulta muito o contacto direto com as populações e em dar resposta às suas necessidades. Evidentemente, que as Juntas de Freguesia e as Câmaras Municipais têm um papel fundamental na promoção da Saúde Mental e que pode passar pelo incentivo ao associativismo, à promoção do emprego e da melhoria das condições de trabalho, pelo trabalho nas escolas e nas IPSS, pela criação de redes e mudança de mentalidades na educação.… pois é uma causa de tod@s! As intervenções conjugadas entre serviços de saúde mental e comunidade, mais próximos dos utentes, são as mais efetivas e as que têm preferência dos utentes e famílias. Urge mais movimento nas comunidades e mais escuta daqueles que experienciam doença mental.

Outra questão essencial é a discussão sobre a importância de se criar condições para os profissionais de Saúde do SNS e promover a sua valorização. Os Especialistas sentem-se “espartilhados” no sentido em que têm de cumprir o protocolo do sistema de saúde, não existindo espaço para trabalhar de uma forma mais séria e consistente com a pessoa que necessita de ajuda. Sentem que simplesmente estão a contribuir para a estatística em que os resultados são avaliados quantitativamente e não qualitativamente. Portanto, é urgente que seja reformulada a gestão das consultas no SNS e que se criem condições para que seja possível ao técnico de saúde prestar o devido tratamento ao utente de saúde mental.

Torna-se ainda essencial falar de literacia em Saúde Mental, algo que ainda está muito aquém das necessidades. Vivemos o instantâneo – é tudo muito rápido, tornando-se essencial existir um trabalho mais aprofundado e contínuo nesta área. É fundamental fomentar-se na comunidade a empatia, a resiliência, a regulação das emoções, o aprender a lidar com a incerteza e com as frustrações e a educação para a Saúde Mental. Este trabalho é imprescindível ser-se implementado nas escolas e no seio comunitário, de uma forma planeada e consistente. De referir que a intervenção precoce é essencial e permite que a médio-longo prazo tenhamos melhor Saúde Mental Comunitária.

Em suma, é essencial que a Sociedade dedique mais tempo para conversar sobre Saúde Mental e que os utentes/pessoas com experiência de doença mental tenham uma voz ativa nas discussões e nas decisões.

O PAN continua a salientar a importância de cuidarmos a Saúde Mental e de valorizar esta área como um aspeto fundamental no encontro da felicidade do Ser Humano.