No passado dia 09 de Julho, assistimos a um espetáculo digno de fogos de artifício – mas não daqueles que iluminam o céu com cores vibrantes. O espetáculo teve lugar na assembleia regional e foi protagonizado por PSD, PS, CDS, PPM, CH e IL que, ao votarem contra a iniciativa do PAN, garantiram que a pirotecnia ruidosa continuará a ecoar nos nossos ouvidos até emouquecermos. Será por nós, e por muitos, relembrado como um dia em que o Parlamento teve oportunidade de optar pelo progresso, mas reinou o primitivismo.
A proposta do PAN/Açores era simples e sensata: proceder ao gradual abandono da utilização de pirotecnia ruidosa, migrando para a silenciosa. Afinal, quem é que não gosta de um bom espetáculo de fogos de artifício sem o acompanhamento sonoro de uma bomba nuclear?
Levámos esta iniciativa a debate com o singular objectivo de honrar a saúde pública, o bem-estar animal e a preservação da natureza, acompanhando as reivindicações da população açoriana, manifestadas através dos pareceres favoráveis à iniciativa, petições, notícias e denúncias de utilização indevida de foguetes. Disto, foi feita tábua rasa pela larga maioria do parlamento açoriano.
Apesar de os estudos científicos comprovarem os efeitos nefastos desta actividade na saúde e no ambiente, e desses serem observáveis a “ouvido nu” – ao contrário do alegado pelos Partidos negacionistas, o conceito de poluição sonora constitui uma falácia, não fosse o desempenho heroico da Região na acção climática. Mas esses são outros quinhentos.
Foi entendimento que esta é uma manifestação da cultura e tradição açorianas. Afinal, porquê preocuparmo-nos com a saúde dos idosos, bebés ou crianças que sofram com Perturbação do Espectro do Autismo, com a morte de animais ou com o avultar da crise climática? O importante é manter a tradição do lançamento de foguetes, especialmente em eventos tauromáquicos. Alimentar uma prática anacrónica com outra.
Lamentável é que continuamos a assistir a quem, pretensiosamente, defende convenções obsoletas e condenáveis, munidos do argumento de que “o povo gosta” e, como tal, não se pode pôr fim. Estou certo de que em países como Brasil, Alemanha, Finlândia, Irlanda, Suécia e em algumas cidades italianas, exista quem defenda esta prática, no entanto, tal não travou a imposição de limitações à utilização de artigos pirotécnicos.
A iniciativa do PAN/Açores foi chumbada, não obstante, assumimos o compromisso de continuar a trilhar este caminho até ao almejado sucesso – conforme é nosso apanágio. Ser disruptivo está no nosso ADN e sabemos o custo disto. Mas, enquanto esperamos por essa gloriosa vitória, acendamos uma vela – ou um fósforo – em homenagem à ironia parlamentar. E que os estrondos nos lembrem sempre que, no mundo da política, o som é mais importante do que o bom senso.