Resulta das diversas notícias trazidas a público e amplamente divulgadas, que no passado dia 17 de Agosto do corrente ano, teve lugar, na freguesia da Agualva, concelho da Praia da Vitória, uma tourada à corda onde participaram e faleceram quatro touros puros em circunstâncias dúbias, por envolverem situações de maus-tratos a animais. Pois, decorrer da referida tourada, alguns dos animais ficaram feridos e, inclusive, manifestaram sintomas que indiciam golpe de calor.
Em consequência, após a tourada, os animais foram encaminhados, com urgência, para o matadouro industrial da ilha Terceira para realização de eutanásia ou abate, sendo que alguns chegaram ao matadouro já cadáver.
A população relata que o primeiro touro terá destruído o casco de uma das patas no decurso da tourada à corda, ficando impossibilitado de andar e correr, sem prejuízo do natural sofrimento causado pela dor que decorre da lesão, deixando um rasto de sangue por onde passava.
Relatam, ainda, que o animal não foi imediatamente recolhido, e não lhe foi prestado qualquer auxílio médico-veterinário. Em alternativa à prestação de cuidados médico-veterinários, o animal foi encaminhado para o matadouro industrial da ilha Terceira, por decisão do tutor.
Ainda no decorrer desse evento tauromáquico, os populares contam que o segundo touro esteve largas horas a dar pontapés e cabeçadas na gaiola onde se encontrava aprisionado, exposto ao sol e ao calor sem abeberamento e comida disponíveis. Após deixar a gaiola, era observável que o animal estava desnorteado, com movimentos descoordenados e tonto, impossibilitado de caminhar. O animal acabou por ser recolhido e encaminhado para o matadouro por decisão do tutor.
Já o terceiro touro após ser libertado da jaula, onde também se encontrava há largas horas em exposição ao sol, sem água e abeberamento, começou a correr e, sem que algo o justificasse ou fizesse antever, caiu ao solo, onde veio a falecer.
Por fim, existem fortes suspeitas que o quarto e último touro faleceu no interior da gaiola, após ter sido recolhido no término da sua largada, que foi de curta duração, devido às suas débeis condições físicas.
Para compor o cenário do triste fado desses animais de lide, importa referir que este dia foi um dos dias mais quentes do Verão e que a temperatura no interior das gaiolas pode, facilmente, atingir os 50 graus Celsius, dificultando a vida de qualquer animal, sobretudo a de um com as características de um touro bravo.
Existem, ainda, relatos que os animais foram retirados da pastagem de origem e colocados nas gaiolas durante a manhã desse dia, permanecendo aprisionados nas gaiolas durante largas horas, até à sua largada na tourada no fim desse dia.
Considerando a gravidade dos factos, levantam-se sérias dúvidas sobre as condições físicas em que os animais se encontravam – manifestadas também pelo fiscal da tourada, bem como o seu tratamento desde a saída da pastagem de origem até à largada na tourada, sem prejuízo da sua recolha e transporte até ao matadouro e prestação de auxílio e cuidados médico-veterinários.
A história relatada é uma demonstração inequívoca da violência existente nessa atividade, merecedora do repúdio desta casa, não podendo ser integrada numa ideologia de cultura.
Como pode dizer-se que o touro não sofre?!
É mais um triste episódio da história da tauromaquia, destacando-se pela consternação social causada pela violência infligida aos animais em causa.
Esperamos que a ebulição social que essa barbárie causou seja o ponto de não retorno nesta batalha pela proteção e bem-estar de todos os animais, com impacto nas futuras ações dos decisores desta casa.
Pese embora este fatídico episódio tenha gerado alarme social, não podemos esquecer-nos de todos os animais utilizados pela atividade tauromáquica que morrem no esquecimento devido às práticas anacrónicas que essa atividade envolve, como por exemplo, serem violentamente mortos à nascença por terem características distintas daquelas a que deve obedecer um touro de lide.
É esta a composição cénica da dicotomia clássica: a civilização versus barbárie.
Por isto, apresentamos este voto de pesar pelo sacrifício de todos os animais que faleceram e que, lamentavelmente, irão padecer no decorrer desta época tauromáquica em prol daquilo a que um nicho de pessoas apelida de entretenimento, enquanto um largo espectro da sociedade civil clama de tortura pela violência infligida e com a qual não compactuamos.
Citando Lucas Seabra da Silva, Intendente Geral da Polícia, à data da abolição das touradas pela revolução liberal em 1809: “Os combates de touros sempre foram considerados como um divertimento impróprio de humana Nação civilizada. Espetáculos desta natureza são quase sempre acompanhados de desastres (..): e estas cenas de sangue somente são capazes de inspirar ao povo grosseiro inclinação aos assassínios”.
Assim, ao abrigo das disposições regimentais e estatutárias aplicáveis, a Representação Parlamentar do PAN propõe à Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores a aprovação do presente voto de pesar por todos os animais que faleceram na época tauromáquica 2023.