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Além das chamas

A profissão de bombeiro pode facilmente assemelhar-se à arte da representação, porquanto, assim como no teatro, o cenário que se desenrola nos bastidores é tão vital quanto o que é exposto ao julgamento público.  

A analogia entre o teatro e a profissão de bombeiro ilustra não só a importância de valorizar os momentos de crise, mas sobretudo os esforços que, apesar de muitas vezes invisíveis aos olhos da sociedade, se prefiguram indispensáveis ao sucesso e eficiência na execução final. 

Não raras vezes, a realidade desta profissão esconde-se sob a superfície do que a sociedade amplamente lhe associa: o combate a incêndios ou o auxílio em situações de calamidade. Todavia, os papéis desempenhados por estes profissionais vão muito além do que, para nós, é visível e imediato e são resultado de um esforço árduo e coordenado de bastidores, em prol da segurança e do bem-estar da comunidade. 

Ser bombeiro requer um trabalho contínuo que sustenta a peça principal e assegura a segurança e a saúde de todos nós e neste ‘cenário de bastidores’, cuja atenção e reconhecimento permanecem ocultos, enquadra-se o transporte de doentes não urgentes, cuja manutenção se encontra – ou encontrava – sob ameaça, sob pena de a suspensão deste serviço comprometer a saúde e a segurança da população açoriana, sem prejuízo de contribuir para o agravamento de patologias. 

Em virtude das preocupações manifestadas pelas associações de Bombeiros, o PAN/Açores viu aprovada por unanimidade, no Parlamento, na passada semana, uma iniciativa da sua autoria que garante o serviço de transporte de doentes não urgentes, por intermédio de uma compensação financeira do Governo às associações, que, ainda que à beira do colapso financeiro, têm assegurado parte dos custos inerentes a esta operação, em virtude do reiterado e ordinário incumprimento do Executivo. 

A manutenção deste serviço é garante do acesso a cuidados de saúde à população, independentemente da sua condição financeira ou localização geográfica, especialmente numa região onde a geografia acidentada e a dispersão populacional constituem desafios adicionais. Assim, a compensação financeira aprovada, por proposta do PAN, visa cobrir a diferença entre o montante atualmente pago pelas entidades contratadas pelo SRS e o valor ideal de 0,90€ por km percorrido, que deve ser acompanhada de um compromisso firme e contínuo por parte da tutela, sob pena de que o ciclo vicioso de incumprimento resulte na privatização de um serviço que deve ser aberto e acessível a todos. 

Esta conquista não reside apenas na aprovação de uma iniciativa, mas na criação de um sistema de saúde sustentável que previna o estrangulamento financeiro das associações de bombeiros, garantindo que operem de forma eficaz e sustentável. 

O acto de salvar vidas e proteger a comunidade é um papel que merece ser celebrado, revelador de um compromisso contínuo e silencioso de quem escolhe ser bombeiro quando a cortina se abre, mas também quando se fecha.