Outubro assinala o Dia Mundial da Luta contra o Cancro da Mama – um apelo à reflexão sobre a prevenção, os sistemas de saúde e a responsabilidade colectiva de transformar conhecimento em cuidados acessíveis.
Os Açores registam cerca de 120 novos casos de cancro de mama por ano, sendo esta a doença oncológica com maior incidência nas mulheres, com uma tendência crescente, que acumula desafios, exigindo uma resposta urgente, coordenada e eficaz, que encontra limitações estruturais no Serviço Regional de Saúde, refém da escassez de recursos humanos para a realização de exames mamários, sem prejuízo dos desafios já impostos pela dispersão geográfica.
No entanto, convém não esquecer que os homens também podem desenvolver a doença. Histórico familiar, alterações hormonais, mutações genéticas, entre outros factores de risco, devem despertar-nos para os principais sintomas: nódulos, inchaços, secreções, alterações na aréola, etc.
A ineficácia dos recursos pode comprometer a capacidade de rastreio sistemático e atempado da população, bem como um diagnóstico precoce, factores elementares no aumento da probabilidade de sobrevivência e redução da agressividade dos tratamentos, que dependem do momento em que a mesma é detectada.
A detecção precoce é, segundo a Organização Mundial da Saúde, a principal estratégia para reduzir a mortalidade associada ao cancro da mama, que, quando diagnosticado numa fase inicial, as probabilidades de cura ultrapassam os 90%, pelo que ignorar estes factores perpectua desigualdades no acesso a cuidados de saúde e potencia a mortalidade – dados recentes do INE colocam cinco concelhos açorianos no top 10 de concelhos com taxa de mortalidade mais elevada do país.
A par da componente técnica, importa referir a dimensão humana que esta doença acarreta, sendo fundamental garantir apoio psicológico aos doentes oncológicos, que continua a ser subvalorizado – como, aliás, a saúde mental em todas as suas dimensões. O cancro da mama deixa feridas emocionais com impacto na identidade, autoestima e autonomia dos doentes, que permanecem numa luta constante contra o medo da recidiva, o isolamento e a invisibilidade de um percurso muitas vezes solitário.
Neste sentido, o movimento Outubro Rosa, nascido nos Estados Unidos da América na década de 90, assume um papel central nesta mobilização, tornando-se símbolo global de luta contra o cancro da mama, representando valores como esperança, solidariedade e coragem. Mas, mais do que isso, deve ser encarado como fomento ao investimento na saúde feminina, por intermédio da detecção precoce, exames regulares, campanhas de sensibilização e apoio aos doentes.
O Outubro Rosa recorda-nos que a prevenção exige compromisso. A quem governa, cabe investir na formação e contratação de profissionais, reforçar equipamentos hospitalares e garantir rastreios acessíveis, por forma a inverter a tendência. À sociedade cabe educar-se, combater estigmas e acompanhar as pessoas afectadas.