Desde 2013 que cerca de 13 000 km2 do nosso património natural, terrestre e marinho, compõem o Geoparque dos Açores, que ostenta o título de “Geoparque Mundial da UNESCO” e integra a Rede Mundial de Geoparques, composta por 177 geoparques em 46 países.
Toda essa extensão territorial, “azul” ou “verde”, foi mundialmente reconhecida como sendo detentora de um extraordinário património geológico, e que, devido à sua importância – fruto da sua raridade e singularidade – detém uma estratégia de desenvolvimento sustentável, por intermédio do envolvimento das comunidades locais. É uma classificação atribuída a locais que promovem a proteção da geodiversidade do planeta.
Nessa extensão territorial existem locais de notável valor científico, ecológico, educativo, cultural, paisagístico e económico (turístico): são os geossítios. Sendo estes predominantes nos Açores – cerca de 121 – devido às condições arquipelágicas, por exemplo: Caldeira do Vulcão do Fogo; Monte da Guia e Porto Pim; Montanha do Pico; Ilhéus das Formigas e Recife Dollabara, entre outros. Ou seja, temos vulcões, caldeiras, lagoas, campos lávicos, fumarolas, águas termais, fajãs, depósitos fossilíferos marinhos, etc. Esta panóplia faz dos Açores um “hotspot” de biodiversidade inigualável, altamente atrativo para visitação e observação devido às suas especificidades ímpares.
Mas quem os visita sabe o que observa e o seu valor? É essencial valorar um geossítio para transmitir aos visitantes a importância da sua preservação e conservação? O envolvimento comunitário deflagra a índole protecionista do património natural, impulsionando a adoção de modelos económicos de desenvolvimento sustentável?
A utilização do património natural, sobretudo geológico, deve nortear-se pelas diretrizes da progressiva sensibilização e consciencialização da importância do património natural, visto, também, ser um elemento diferenciador da identidade cultural comunitária.
A ostentação do título de “geoparque” extrapola o conceito de património geológico, requer a crescente capacitação e envolvimento das comunidades na conservação e preservação do património natural, devendo o desenvolvimento económico pautar-se por um modelo “amigo do ambiente”.
Poder-se-á dizer que este não é o caminho que temos vindo a trilhar. Ao ser permeável à massificação do turismo, sacrificamos o património natural e as comunidades locais mais vulneráveis.
O cartão amarelo da UNESCO é uma oportunidade para, também, repensarmos que ambiente temos e queremos.
Pese embora a revalidação não tenha sido imediata, temos dois anos para reverter o quadro, sob pena de nos ser dado um cartão vermelho e sermos expulsos do “Geoparque Mundial da UNESCO”.
Durante esse período devem acarretar-se as recomendações da UNESCO, designadamente: desenvolver a identidade regional do geoparque, atenuando as disparidades entre ilhas; promover a informação do geoparque, sobretudo dos geossítios de interesse mundial; aumentar a resiliência com recursos a meios humanos, e investir na literacia, alertando para a necessidade de mitigar as alterações climáticas.
É essa a missão da nova Direção do Geoparque dos Açores para assegurar a manutenção do título.