AnimaisOeirasOpinião

Opinião | Sentença: Prisão Perpétua

Sílvia Marques, autarca do PAN em Oeiras

O acorrentamento de animais é ainda uma prática muito frequente no nosso país. Seja porque destroem sofás, escavam vasos e canteiros, fogem ou porque roem tudo o que lhes aparece à frente, as justificações para acorrentar um cão são do  mais variado.

O acorrentamento permanente de animais provoca, comprovadamente, diversos problemas físicos e comportamentais, causando lesões e infligindo dor e sofrimento, incluindo psicológico, que se pode manter até depois de terminar o cativeiro. Os danos corporais vão desde hérnias cervicais, meningites, lesões na traqueia, na coluna e nos ossos – quando a corrente excede 10% do peso do animal -, bem como coleiras incrustadas na pele, muitas vezes por terem sido colocadas quando o animal ainda era pequeno e desde aí nunca mais terem sido mexidas, causando lesões irreversíveis, uma vez que o fluxo sanguíneo não chega devidamente ao cérebro.

Condenados a um acorrentamento perpétuo, estes animais não vivem, limitam-se a existir. Expostos ao sol, à chuva, ao vento, ao calor e ao frio, comem, dormem e defecam num espaço exíguo, de onde nunca saem. Sobrevivem sem respeito, sem exercício, sem atenção, sem interação social e muitas vezes sem os cuidados alimentares, higiénicos e veterinários mais básicos.

Além disso, o animal preso fica incapaz quer de se defender, no caso de ser atacado por outros animais, quer de escapar a catástrofes, como inundações ou incêndios. Quem não se recorda do que se passou nos abrigos ilegais de Santo Tirso, em que morreram carbonizados mais de 70 animais no verão passado, por estarem, além de acorrentados, também trancados em jaulas? E não foram só cães que foram encontrados nesta situação, também gatos. O acorrentamento também torna os animais mais vulneráveis aos atacantes humanos e, infelizmente, o que não falta são exemplos. São ainda, também, frequentes os relatos de animais que morrem enforcados nas suas próprias correntes.

Manter cães acorrentados é perigoso para os animais mas também para a comunidade, uma vez que vários estudos mostram que estes têm maior probabilidade de se tornarem agressivos. Os cães são animais sociais. Serem relegados para o fundo de um quintal, sozinhos, sem poderem interagir com aqueles que consideram a sua família, os seus protetores, bem como com outros animais, faz com que desenvolvam comportamentos compulsivos e por vezes agressivos. A sociedade ainda não está suficientemente educada para poder usufruir da companhia de um animal.

Um detentor que acorrente um animal está a maltratá-lo e há, por isso, a necessidade de lhe fazer perceber que está a cometer um crime. Para não serem coniventes com o mesmo, seria bom que as autoridades competentes – veterinários municipais, polícias ou operadores judiciários -, também o percebessem: não basta verificarem se têm água, comida e os documentos e as vacinas em dia.