Direitos Sociais e Humanos

Recomendação pela Criação do Projecto “Sénior perto de Nós” em Odivelas

A solidão, os baixos rendimentos, os baixos níveis de instrução e a inactividade constituem factores de risco para a população idosa que, associados a situações de incapacidade física que afecta a realização de actividades de vida diária, acentuam a sua vulnerabilidade económica e social, determinando a perda de autonomia, a dependência de terceiros e, em muitos casos, potenciam a existência de abusos e maus-tratos.
Importa recordar que em 2019, e de acordo com os resultados do estudo “Operação Censos Sénior 2019” realizado pela GNR (1) , foram sinalizados cerca de 42 mil idosos portugueses a viver sozinhos ou isolados ou até vivendo em companhia exclusiva de pessoas também idosas, o que contribui para o aumento dos riscos apontados. Estes dados preocupam e, ainda mais os referentes à população de Odivelas em que por cada 100 jovens em Odivelas existem 126 idosos (2) , é essencial que sejam adoptadas medidas específicas de combate às situações de negligência e abandono que contribuam para a diminuição da pobreza, isolamento e dependência atendendo à especial vulnerabilidade desta faixa etária da população.
Em momentos de tristeza, raiva ou decepção, muitas pessoas preferem isolar-se e procurar a sua tranquilidade na solidão. Contudo, chega um momento em que nos acalmamos e com isso sentimos a necessidade de voltar a sentir a companhia e o apoio de todos aqueles que, de uma ou de outra forma, nos incentivam a viver. Quase ninguém, por decisão própria, decide ficar sozinho, já que o ser humano é naturalmente um ser social.
Um estudo recente (3) procurou investigar a dimensão da associação entre as deficientes relações sociais e as doenças cardíacas e acidentes vasculares cerebrais, as duas maiores causas de morte nos países desenvolvidos, como é o caso de Portugal (4) , tendo concluído que o isolamento social aumenta o risco de doença cardíaca em 29% e de acidente vascular cerebral em 32%.

Também não é tão raro acontecer que idosos cheguem à sua velhice e sofram de isolamento por parte da sua família ficando, muitas vezes, completamente abandonados até ao dia da sua morte.
Segundo o SNS 24 (5) , o isolamento social é, principalmente, a:
– ausência de contacto social ou familiar
– ausência de envolvimento na comunidade ou com o mundo exterior
– ausência ou dificuldade no acesso a serviços
Até há algumas décadas atrás, os lares familiares eram habitados por diversas gerações – avós, filhos e netos – havendo sempre companhia para o idoso em casa. Actualmente, e particularmente nos meios urbanos, é frequente os idosos morarem sozinhos e, mesmo quando moram na mesma residência, os seus filhos e netos passam a maior parte do tempo fora de casa nas suas actividades
profissionais e académicas ou de lazer.
Há que respeitar a opção de muitas das pessoas idosas de escolherem residir nas suas casas, sozinhas ou acompanhadas (sendo que, em muitas situações, reside mais de uma pessoa idosa na mesma residência compartilhando todas as vicissitudes e características da tipologia familiar) e que justificam pelo forte sentimento de pertença e de identidade comunitária. No entanto, a comunidade
tem de garantir o bem-estar e qualidade de vida destas pessoas de forma a ser possível detectar situações de risco e agilizar uma intervenção ajustada a cada situação.
Envelhecer com qualidade de vida é essencial não só para a pessoa idosa como para as próprias famílias e sociedade em que está inserida. A forma como qualquer sociedade trata o seu idoso revela o cuidado e respeito que socialmente deve a uma faixa da população que é, por natureza própria, vulnerável mas muito estimada.
Todas estas são razões que vêm sublinhar a necessidade de colocarmos a solidão na agenda do município e de a tratarmos como uma prioridade ao nível da saúde pública. Se investirmos na prevenção, detecção e tratamento das causas de solidão estamos a reduzir a necessidade futura de estas pessoas recorrerem a serviços de saúde, urgência, medicação ou a apoios sociais, reduzindo também aqui os custos que lhes estão inerentes e sobretudo estamos a investir numa sociedade mais feliz e saudável.

É neste contexto que o PAN vem propor um projecto que tem como objectivo detectar situações de risco na população com mais de 65 anos de idade e enquadrar essas situações numa rede de apoio comunitário local e propõe-se actuar em três eixos de trabalho destacados mas interligados:

  • detecção de casos de risco de isolamento
  • rede de amigos para companhia
  • apoio solidário e institucional intervencionado por diversas entidades

Estes eixos de trabalho irão permitir identificar os casos em que irá ser necessária intervenção, planear as respostas em função de cada caso, permitir uma resposta integrada e de proximidade e centralizar e optimizar as informações que irão ser a base da acção social.
Quem pode intervir e reportar qualquer situação ao grupo de trabalho do projecto?
– Todos os cidadãos individualmente – voluntários e vizinhos
– Todas as entidades e instituições do Concelho: o comércio local, os trabalhadores públicos, trabalhadores residentes e não residentes do Concelho, etc.
A rede de amigos para companhia funcionará como resposta ao combate à solidão integrando a participação da população jovem em iniciativas de troca de conhecimentos geracionais: técnicos, artísticos, culturais, etc. A diferença de atitudes entre pessoas de diferentes gerações levará a uma compreensão entre as mesmas e em última análise, uma atitude construtiva de intercâmbio de ideias
e experiências que poderá trazer vantagens a todos os envolvidos: população idosa, população jovem e município.

O PAN propõe para deliberação pela Assembleia Municipal de Odivelas que recomende à Câmara Municipal de Odivelas a:

  • Criação de Equipa integrada pela CMO, Juntas de Freguesia, IPSS e Comunidade (Voluntários, vizinhos e comércio local)
  • Criar a figura do “Amigo do Idoso” para melhor acolhimento junto da comunidade aquando do seu trabalho no terreno de detecção de casos.
  • Implementar diversas campanhas de sensibilização para o novo projecto, quer por via escrita – folhetos informativos a distribuir em todas as lojas do comércio local, centros de saúde, serviços públicos, escolas, zonas de mobilidade de cidadãos tais como paragens de autocarro; e outros transportes urbanos – quer por via electrónica e redes sociais dos canais
    institucionais da CMO e Juntas de Freguesia.
  • Implementar diversas campanhas de sensibilização para o novo projecto nas escolas do concelho.

Este projecto poderá ser mais um dos instrumentos de combate à exclusão social levados a cabo pela Câmara Municipal de Odivelas, dadas as suas responsabilidades ao nível concelhio, nomeadamente em matérias de planeamento, bem como a sua particular capacidade para congregar os agentes e os recursos locais.

“O segredo de uma velhice agradável consiste apenas na assinatura de um honroso pacto com a solidão.”
(“Cem Anos de Solidão” de Gabriel Garcia Márquez)

Odivelas, 17 de Junho de 2020

Pessoas – Animais – Natureza
(GM PAN)

1) https://www.gnr.pt/MVC_GNR/Recortes/Details/13211
2) https://www.pordata.pt/Municipios/%c3%8dndice+de+envelhecimento-458
3) https://heart.bmj.com/content/102/13/1009, Among Older Adults: A National Survey of Adults 45+
4) In Causa de Morte 2016. Instituto Nacional de Estatística, I.P., 2018.
5) https://www.sns24.gov.pt/guia/a-solidao-e-o-isolamento-social/