Direitos Sociais e Humanos

UM NOVO PARADIGMA: A EMPATIA COMO FERRAMENTA

Declaração Política
”Um novo paradigma: A Empatia como ferramenta.”

Vivemos momentos conturbados, tanto no tocante às pessoas, como à natureza e ao planeta.
Estamos a assistir, como noutros momentos da História, a grandes mudanças: a rápida altera-ção das dinâmicas internacionais, a complexidade e a multidimensionalidade dos desafios (alterações climáticas, migrações, paz, entre outros) são uma preocupação de todos.
Cada vez se ouve mais as expressões: solidariedade, planeta, parceria, ambiente, degradação do planeta, gestão sustentável dos recursos naturais, combate às mudanças climáticas, ne-cessidades das gerações presentes e futuras, sociedade inclusiva, justiça, solidariedade, mul-tidisciplinar, transversal …
Estamos perante um momento crucial, e tal está escrito na Agenda 2030 para o Desenvolvi-mento Sustentável:
– São necessárias medidas ousadas e transformadoras para pôr o mundo num caminho sus-tentável e resiliente;
– Não se pode deixar ninguém para trás, devendo ter-se especial consideração para com os que normalmente “não têm voz” (ilegais, sem abrigo, isolados);
– Os Objetivos e Metas a alcançar pelas políticas são integrados e indivisíveis, e têm de com-binar, de forma equilibrada, as três dimensões do desenvolvimento sustentável: a económica, a social e a ambiental.
É consensual, ou devia ser, que as políticas não podem visar somente o crescimento econó-mico, o qual, aliás, tem sido paralelo ao crescimento das desigualdades. Posto de outra forma, quanto maior o crescimento económico, maiores as desigualdades, dentro de um mesmo país e entre países.
As políticas devem acima de tudo visar o aumento do bem-estar das populações, pois só assim iremos alcançar uma vida plena e feliz para todos, humanos e não humanos, em harmonia com os ecossistemas e com a natureza em geral.
Já não restam dúvidas que é necessário criar respostas abrangentes, coordenadas e de longo-prazo e Mudar o Paradigma.
É chegado o momento de uma visão global, tendo presente as grandes questões da atualidade, com destaque para a gravidade dos complexos problemas sociais, ecológicos e de exploração da vida animal, de forma a evitar o que parece ser o inevitável: a progressiva escassez de recursos e as guerras que daí advirão.
O ser humano, pela sua maior capacidade de intervenção (e de destruição) sobre a natureza, o meio ambiente e os seres sencientes, bem como pela sua possibilidade de livre arbítrio, memória, previsão e opção ética, é o responsável pelo retorno à harmonia ecológica e pelo bem-estar dos seres vivos.
Por tudo isto é necessária uma nova abordagem, uma mudança na forma de olhar os proble-mas e também de encontrar caminhos.
É necessário sair do modo de ver cada problema de forma isolada, analisado de acordo com “a nossa perspetiva”, tendo em consideração “a nossa experiência” e o “nosso conhecimento”. Ou seja, temos de ultrapassar o egocentrismo e o egoísmo.
Que tal começarmos a olhar para “o outro”? A sentir o que outra pessoa está a sentir? Perce-ber o que outra pessoa está a sentir? Responder à experiência da outra pessoa? Fazer uma ligação entre o “eu” e o “outro”, mas sem confundir o “eu” e o “outro”?
A isso chama-se Empatia: a capacidade de compreender ou sentir o que outro ser (um animal humano ou não-humanos) está a experienciar tendo em consideração o quadro de referência do outro ser, ou seja, a capacidade de colocar-se na posição do outro .
A empatia é crucial “enquanto ferramenta de navegação no mundo social, ao permitir que a antecipação dos comportamentos dos vários atores com quem se interage e, desse modo, adaptar o nosso comportamento às diferentes interações sociais” , sendo um conceito am-plamente estudado por várias áreas como a psicologia e a neurociência .
E, se a este conceito juntarmos o que hoje já se sabe sobre outras espécies, designadamente pela “Declaração de Cambridge sobre a Consciência em Animais Humanos e Não Humanos” , na qual 25 especialistas de renome internacional, afirmaram que os humanos não são os úni-cos a possuir os substratos neurológicos que geram a consciência, dado que a ciência com-provou que os animais não humanos, como todos os mamíferos, aves e muitas outras criatu-ras, inclusive polvos, também possuem esses substratos neurológicos: são seres “sencientes”, ou seja, capazes de sentir dor, frio, estresse, prazer e felicidade, não podendo ser tratados como “coisas”, definitivamente há algo a mudar.
Deste modo, o PAN gostaria de propor desde já alguns caminhos:
– Assumirmos que todos os seres sencientes, humanos e não-humanos, são interdependentes no seio de um mesmo ecossistema e têm o direito de satisfazerem as suas necessidades vitais, de não sofrerem e de experimentarem sensações e sentimentos de prazer, segurança, bem-estar e felicidade (independentemente do seu fim);
– Reconhecermos que no presente existem, antigas e novas, formas de opressão e de explo-ração do ser humano pelo ser humano, bem como de animais não humanos pelo ser humano, estando a sua denúncia e combate longe do ideal;
– Reconhecermos que é necessário mudar mentalidades e comportamentos, respeitando as pessoas, os animais e a natureza

Lisboa, 5 de julho de 2016

Pessoas – Animais – Natureza
(GM PAN)

Miguel Santos