Na discussão do Plano e Orçamento Regional, proporcionamos um verdadeiro desfile de propostas que, se fossem um banquete, fariam qualquer gourmet salivar. O PAN/Açores trouxe à mesa um pacote de medidas rico, que prometia avanços significativos para as pessoas, proteção animal e conservação da natureza. No entanto, como frequentemente acontece, as propostas acabaram abafadas pelo ruído ensurdecedor do desinteresse parlamentar, a quem incumbe a responsabilidade de dar voz ao povo.
Entre as propostas, destacavam-se avanços significativos para a saúde feminina, inclusão social, melhorias nas escolas e nos cuidados de saúde, com créditos para a saúde mental, frequentemente ignorada. Credibilizar o sector da cultura e promover a justiça laboral compunham um verdadeiro maná de 17 propostas, recebido com um olhar vago e desinteressado, onde apenas coube a aprovação do levantamento de imóveis disponíveis para habitação, numa sociedade que clama por atenção e apoio.
No que concerne à causa animal, submetemos propostas de incentivos à reconversão do sector tauromáquico, taxação deste pelo recurso ao Serviço Regional de Saúde, reforço das verbas para as associações de proteção animal e despesas médico-veterinárias, sem esquecer a promoção de campanhas de castração, esterilização e identificação de animais de companhia e errantes, num total de 10 medidas apresentadas.
Pese embora a notória descrença deste Governo, e de outros partidos, em relação à causa animal, conseguimos aprovar uma proposta que visa o combate ao acorrentamento de animais, que rompeu num raro vislumbre de sensatez no meio de uma governação marcada pelo descompromisso com os direitos dos animais. Resta agora saber se este inesperado acto de benevolência será um marco de mudança ou uma exceção à regra.
Na esfera ambiental, as propostas de incentivos à mobilidade suave, à agricultura biológica e regenerativa, ao consumo de produtos locais e à proteção da biodiversidade marinha são um convite ao futuro que tanto almejamos, aliadas à utilização eficiente da água. O chumbo das 17 propostas apresentadas pelo PAN/Açores em prol da preservação da natureza e mitigação das alterações climáticas esbarram, assim, com uma Região assolada por intempéries, onde a crise climática é debatida com a mesma seriedade de uma conversa de circunstância.
O que resta, então, deste pacote de medidas ambicioso? Irá algum dia o Parlamento açoriano tomar consciência de que o bem-estar das pessoas, a protecção animal e a preservação do nosso planeta devem constituir prioridade? Ou continuarão a preferir a segurança de um menu monótono, ignorando os deleites que um futuro mais justo e sustentável poderia trazer? A resposta parece tão incerta quanto a vontade política de fazer a diferença.
Por agora, assim ficamos, com uma gota de aprovação num mar de soluções, plasmadas num pacote de medidas que permanece à espera, como um presente não desembrulhado, à mercê do esquecimento.