São já múltiplos os exemplos do desrespeito deste Governo pelo património natural e arbóreo da Região, sempre em nome de uma necessidade premente ou de um apregoado bem maior.
O avançar com o projecto de requalificação do Miradouro da Lagoa do Fogo, que apesar de corrigido não o expurga dos pecados originais, as obras no Pico das Camarinhas na Ponta da Ferraria, assumem-se como espelho da actuação governativa em nome de um turismo que se quer sustentável, mas que não é pensado nem projectado de forma sustentada.
As obras de intervenção que decorrem na Alameda dos Plátanos, na Povoação, são só mais um exemplo desse desrespeito pelo nosso património natural, mas desta feita tomado com o propósito de melhorar os acessos agrícolas.
Na semana passada, várias associações denunciaram o que está a ser levado a cabo pela Direcção Regional das Obras Públicas, manifestando, com justeza, a preocupação com o impacto que esta intervenção terá nos mais de 600 plátanos que ladeiam esse icónico troço de mais de três quilómetros.
Em 2012, a Alameda dos Plátanos também esteve sob ameaça, havendo intenção do Governo socialista avançar com a betonização dessa estrada, chegando mesmo a considerar o abate de mais de uma centena dos plátanos.
Este plano resultou inconsequente perante as várias manifestações públicas que se insurgiram à data, tomando lugar, inclusive, à criação de uma petição discutida na Assembleia Legislativa Regional.
Os plátanos e o caminho original em terra batida saíram incólumes por força desta petição, mas o desiderato de ver reconhecido este troço como património paisagístico da Região não logrou o mesmo efeito, e passada uma década a Alameda dos Plátanos ainda carece de classificação como paisagem protegida e de interesse público. Na ausência de um enquadramento legal protecionista, vemo-la sob nova ameaça, com as obras que
Não deixa de ser curioso, apesar de ser já sintomático, estes volte-faces entre quem é oposição e tramita para a governação. Em 2012, o PSD acompanhou e congratulou a petição afirmando que “Esta petição vence a insensibilidade do governo”. Em 2022, procede à realização das obras que condenou em 2012.
Mesmo que não seja abatida qualquer árvore, qual o impacto que as obras que já decorrem terão na integridade e longevidade dos plátanos? Quais os critérios e móbil para proceder ao corte profundo nos seus troncos? Mais, com a construção das bermas, aumentando a impermeabilidade e reduzindo a capacidade de absorção natural das águas pluviais, não irá sobrecarregar-se, ainda mais, os cursos de água e ribeira da Povoação, que já tem um longo histórico de cheias?
São estas algumas das questões que o PAN/Açores dirigiu ao Governo Regional e que pretende ver esclarecidas.
Sendo reconhecida pelas suas características identitárias singulares ao nível do património natural e paisagístico, e como já em 2012 o PSD defendia a classificação como património paisagístico da Região e a mantenha a sua traça original, questionamos o Governo se está em curso o processo para homologar essa classificação.
Aguardemos a resposta do executivo com pensamento no provérbio popular: “Bem prega Frei Tomás, olha para o que ele diz, não olhes para o que ele faz.”.