As resoluções de Ano Novo dão mote a mudanças, mas nem sempre com taxa de sucesso desejada, havendo velhos hábitos que são difíceis de colocar de lado. Como se diz na gíria inglesa – old habits die hard.
Entramos em 2023 com a notícia de que o Governo Regional se encontra em actos preparatórios para implementar um projecto-piloto no rastreio ao cancro do pulmão, na região.
A implementação de um rastreio é fundamental no campo preventivo da saúde, sobretudo considerando a elevada incidência de cancro pulmonar nos Açores, que num rácio de 97 casos por 100 mil habitantes, representa o dobro dos diagnósticos tidos no restante território português.
Conhecendo esta realidade, que se agrava pelos dados existentes quanto aos hábitos tabágicos na região, o PAN/Açores promoveu em Outubro uma iniciativa, que pende, exactamente, na recomendação ao Governo Regional para implementação de um rastreio, a par de outras medidas preventivas.
Ora, o Governo tem a autonomia e legitimidade para dar seguimento a esta ação, e cuja presteza já saudamos, mas não deixa de ser sintomático, perante os vários exemplos em que implementa medidas cujo objecto está em análise em Comissão e aguarda decisão da Assembleia Regional, mas se mostre letárgico na execução de iniciativas que já foram aprovadas nesse mesmo hemiciclo, e muitas por unanimidade.
Este tem sido, amiúde, o modus operandi deste executivo. Várias são as situações em que, quando se marca a agenda política, seja por meio da apresentação de uma iniciativa legislativa, seja por meio de um requerimento ou até mesmo no agendamento de sessão de perguntas em plenário, o Governo acelera pé e põe mãos à obra, ainda que de forma atabalhoada, para assenhorar-se das matérias e transparecer ter a situação sob o seu controlo.
Revela um velho hábito deste executivo, que tende a navegar ao sabor do vento e da maré emanado pelos partidos da oposição. Na área da saúde, temos vários exemplos, com o aviso à navegação a ser dado pelo PAN, mas com tentativa de capitalização do Governo, como a revisão dos incentivos à fixação de médicos, a valorização do trabalho médico suplementar, o reforço de psicólogos no Serviço Regional de Saúde e a que agora se junta a implementação do rastreio do cancro do pulmão.
Mas ainda a respeito do rastreio, as medidas preventivas não poderão circunscrever-se apenas a esse acto. Não podemos dissociar o facto de os Açores serem a região do país com maior incidência de cancro do pulmão e também a que menos tributa o tabaco. É uma correlação evidente que se estabelece sabendo-se que o consumo de tabaco é o principal factor de risco para o desenvolvimento de tumores malignos dos órgãos do aparelho respiratório.
Também é necessário reforçar a literacia em saúde e promover várias ações dissuasoras do seu consumo, conforme propõe o PAN na iniciativa que se mantém ainda em análise, mas que reúne todas as condições para ser aprovada, face a proactividade do Governo em, pelo menos, já se propor executar um dos seus pontos resolutivos.
Que este seja um ano de verdadeira ruptura com os velhos hábitos e com rumo e sentido de navegação próprios!