Em Março assinalamos o Dia Nacional do Doente com Acidente Vascular Cerebral (AVC) – uma ferida aberta na gestão da saúde pública nos Açores, que se afirma como a principal causa de morte e incapacidade permanente em Portugal. Uma epidemia que se estende cada vez mais aos Açores, com cerca de 400 diagnósticos por ano, segundo dados de 2024.
Considerando as estatísticas e a premente necessidade de intervenção, em 2021, o PAN/Açores aprovou o alargamento da via verde do AVC, com o intuito de dotar todas as unidades de saúde da Região com aparelhos TAC (Tomografia Axial Computorizada), representando um avanço significativo que permitiria diagnósticos céleres e tratamentos eficazes, minimizando as sequelas desta patologia. Uma visão que, nalguns casos, ainda é miragem, relegada ao subsolo do esquecimento. Volvidos cerca de quatro anos, as USI das Flores e Santa Maria permanecem desprovidas deste equipamento, num arquipélago com desafios logísticos que obrigam à deslocação dos utentes – um fardo desnecessário e injustificável para quem se encontra num estado de fragilidade – sem prejuízo do défice na contratação de neurorradiologistas.
Em maio de 2024, o PAN/Açores entregou um requerimento ao Governo com o intuito de averiguar alegados cancelamentos e atrasos na realização deste exame, que optou, uma vez mais, pela arte de esconder a crise atrás de números, desviando a resposta para estatísticas genéricas sobre o número de exames realizados em forma de sustento de manchetes jornalísticas.
No final de 2024 chega o anúncio do concurso público para aquisição de um aparelho TAC para a ilha das Flores e este mês a promessa de um novo equipamento para o Hospital da Horta, com instalação prevista para 2025. Resta-nos saber se estamos a um passo ou a uma maratona de distância da concretização, perante a incógnita de um Governo que celebra anúncios tardios como feitos heroicos e que remete a saúde pública a uma nota de rodapé num qualquer documento governamental.
Feitos estes que se estendem à promessa de “tecnologia de ponta” para o hospital modular, que destoam da realidade e aguçam a incoerência política, perante o incumprimento de compromissos que ultrapassaram o prazo aceitável de execução.
Exijamos mais. A saúde da população açoriana merece deixar de viver num limbo de promessas atrasadas e desilusões recorrentes sobre um futuro que depende do acaso ou de uma gestão de adiamentos.