Alterações ClimáticasAmbienteLisboa

Discurso no Debate Temático sobre o Traçado da Linha Vermelha do Metropolitano de Lisboa

Ex.mo Senhor Presidente da Câmara Municipal de Lisboa
Ex.mas Senhoras e Senhores Vereadores
Ex.mas Senhoras e Senhores Deputados Municipais
Ex.mo Senhoras e Senhores Oradores
Ex.mos Órgãos de Comunicação Social e Público aqui presentes
Senhoras e Senhores

Lisboa não é uma referência europeia em termos de transportes públicos.
A comprová-lo está o número de pessoas que ainda opta pelo transporte individual.

Há mais de 20 anos que ouvimos que o transporte público deve ser a primeira escolha dos munícipes.

Mas para isso é preciso mais. O metropolitano precisa de maior abrangência. Quando comparada, por exemplo, com Espanha, a nossa rede assume a sua insignificância, a que acrescem numerosos transbordos.

O PAN defende acerrimamente o ambiente, defende a utilização do transporte público, mas não se esquece das Pessoas, que devem dar o seu contributo por meio de consultas públicas.

Referimo-nos, por exemplo, a Campo de Ourique. Nesta freguesia, onde os espaços verdes não abundam, é justamente no Jardim Teófilo Braga, mais conhecido por Jardim da Parada, que se vai estabelecer a obra!

O jardim vai receber maquinaria pesada, vai ser perfurado. O ruido e a trepidação não vão dar tréguas durante 2 anos. Ainda que seja em só 15% da área, conforme aqui hoje referido, é muito.

O Jardim da Parada não é só um jardim.
É o único na freguesia onde diariamente convive a população sénior e onde as crianças podem desfrutar de um parque infantil.

É o único com árvores adultas de grande porte que constitui um chamariz social durante o Verão.

É o único com um lago ondem vivem patos, aves e tartarugas e onde as crianças podem interagir com os animais.

É o único Jardim que aos fins-de-semana acolhe feiras e mercados e que se enche de fregueses, turistas, comerciantes.

Esta obra não respeita as Pessoas, os Animais ou o Ambiente. Não respeita a história da freguesia e a sua tradição e costumes.

Não respeita a sociedade civil que se organizou ao criar o Movimento Salvar o Jardim da Parada.

Não respeita a democracia e a participação democrática.

Não respeita o arvoredo urbano.

Não respeita os animais que vivem nesse espaço.

Não respeita o comércio e os moradores que durante 2 anos vão ser lesados com ruído e com os danos que certamente vão sofrer as estruturas dos prédios.

É isto que se pretende para a freguesia de Campo de Ourique?

Mas esta não é a única reclamação que nos chega. As obras de expansão da linha vermelha, em concreto da estação de Alcântara, também vão fazer tábua rasa do Baluarte do Livramento, a última das estruturas de defesa da cidade criada aquando da guerra da Restauração da Independência, edificada no século XVII.

Aqui está também a Casa de Goa, que mantém viva a identidade goesa, mais uma coletividade que criou uma petição para alteração do traçado do metropolitano.

Está prevista a amputação de parte da muralha e a outra parte será “desmontada” para, posteriormente, ser reconstruída e reforçada estruturalmente.

Reconstruída… uma muralha que nos ficou da guerra da Restauração. Já não tem o país exemplos de reconstruções falhadas?

O PAN quer uma Lisboa Verde, sustentável e modernizada, mas que não apague a história e memória coletiva.

A Linha Vermelha faz muito falta à cidade, mas não à custa de identidades, monumentos e árvores centenárias.

A Câmara Municipal de Lisboa deve manter-se firme na defesa da sua história e das suas gentes, caso contrário a modernidade corre o risco de apagar o passado e não há futuro que lhe resista.

Lisboa, 13 de outubro de 2022,

O Grupo Municipal
do Pessoas – Animais – Natureza

Isabel do Carmo
(DM PAN em Regime de Substituição)