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É urgente redirecionar os fundos da UE esbanjados para satisfazer o “Culto da Vaca Feliz”

Candidato às Europeias 2019 Pedro Neves

A entrevista completa do Jornalista Paulo Faustino do Açoriano Oriental a Pedro Neves - O Candidato ocupa o terceiro lugar da lista nacional do PAN ao Parlamento Europeu. Quer lutar pela saúde, soberania alimentar, independência energética, educação ambiental e política, bem-estar animal e defesa ecossistémica em nome de uma "sociedade justa e inclusiva".

Qual é estratégia do PAN Partido Pessoas Animais Natureza em relação aos Açores no que diz respeito às próximas eleições europeias?

O PAN acredita que apenas um modelo assente em liberdades económicas reais é capaz de garantir um sistema eficaz, que encoraje a cooperação económica e naturalmente empregos de longa duração. Defendemos uma mudança na estratégia existente relativamente às políticas regionais, perpetuadas tanto pelos eurodeputados dos Açores como do próprio Governo Regional, que limita o potencial dos Açores enfraquecendo o tecido socioeconómico da Região. A nossa dependência externa em termos alimentares e energéticos não fortalece a economia com uma balança comercial desfasada do ideal, nem fortalece o território em termos geopolíticos. É urgente o redirecionamento dos fundos europeus, atualmente esbanjados para satisfazer apenas o “Culto da Vaca Feliz”, para a saúde, soberania alimentar e independência energética em todas as ilhas, baseado nos novos quadros comunitários que promovem a sustentabilidade e coesão social.

É urgente o redirecionamento dos fundos europeus, atualmente esbanjados para satisfazer apenas o `Culto da Vaca Feliz’, para a saúde, soberania alimentar e independência energética em todas a ilhas.

Se for eleito, quais são as bandeiras pelas quais se pretende bater e as medidas que tenciona propor como deputado europeu que defende os interesses dos Açores?

Queremos fomentar medidas que reforçam os pilares essenciais de uma sociedade, solidificando a autonomia, dando com isso perspetivas de crescimento e de criação de emprego. Na saúde e dentro dos fundos de financiamento hospitalar, pretendemos criar uma “Via Verde Regional” do acidente cérebro vascular, através de protocolos terapêuticos, recurso à telemedicina e investimento em aparelhos de TAC em todas as ilhas, de forma a diagnosticar e proporcionar um tratamento adequado. Uma TAC é indispensável para despistar qualquer tipo de hemorragia cerebral, para excluir a possibilidade de administração da terapêutica, potenciar uma celeridade de tratamento e, simultaneamente, ajudar a decidir evacuações no caso de doentes vítimas de trauma.

Os novos fundos europeus apresentam oportunidades e os Açores devem canalizá-los de forma mais eficiente na defesa dos seus recursos naturais.


Na soberania alimentar e independência energética, usando os investimentos de apoio às energias renováveis e à bioeconomia, o nosso compromisso é de conversão multissetorial em termos de agricultura em produção biológica e extensiva, abrangendo a silvicultura, fruticultura e horticultura, vitivinicultura e floricultura, sempre com um pensamento de manutenção das terras e na renovação geracional, transmitindo um património demasiado importante para ser perdido.

Na independência energética temos a oportunidade de produzir de forma totalmente limpa e renovável, mantendo a fonte geotérmica e potenciando a captação da energia solar. Com esta medida, além de cumprirmos as metas de descarbonização, reduzimos gradualmente a nossa dependência, que nos enfraquece, de combustíveis fósseis vindos de mercados externos. Os novos fundos europeus apresentam oportunidades e os Açores devem canalizá-los de forma mais eficiente na defesa dos seus recursos naturais, potenciando e implementando uma verdadeira economia circular na Região.

Pedro Neves, candidato do PAN às europeias, alerta que a dependência externa dos Açores, em termos alimentares e energéticos, não fortalece a sua economia

Ocupa a terceira posição da lista nacional do PAN ao Parlamento Europeu, que é honrosa, contrariamente ao que aconteceu com o PSD/A, que ficou com o 8 lugar, tendo mesmo recusado esse lugar. Qual a sua opinião sobre esta situação: entende que os Açores vão ficar diminuídos na sua defesa com a provável eleição de apenas um eurodeputado originário da Região (o socialista André Bradford)?

Não só o terceiro lugar, como temos a candidata Sónia Domingos dos Açores na lista de efetivos, o que demonstra o respeito e a importância que o PAN a nível nacional dá à Região. No PAN temos a oportunidade de eleger um eurodeputado que irá defender a Região de forma bastante acutilante e com a sensibilidade idiossincrática necessária para a nossa realidade.

Sónia Domingos, candidata do PAN às europeias



Não vemos é como o candidato do PS, com as medidas e mensagens divulgadas nesta campanha, poderá ser a voz dos açorianos e defender a Região como ela merece ser defendida, quando parece é representar o lobby do leite que diminuiu drasticamente a sua contribuição para a evolução económica dos Açores. Representa de igual forma o Governo Regional, obsoleto e impreparado para acompanhar a evolução tão necessária na Região, apesar da janela temporal bastante alargada que existiu, para uma adaptabilidade na cadeia de valor e nos setores onde se devia apostar.

Basta olhar para os índices de pobreza divulgados recentemente pelo Instituto Nacional de Estatística, com 36% da população açoriana em estado de pobreza, a região com taxa mais elevada de Portugal, para verificarmos que a estratégia e gestão do governo, além de estar errada, está a ter consequências destruidoras nas famílias açorianas. Estas falhas sistémicas na estratégia têm gerado mais desigualdades sociais e económicas, menos investimento, mais dívida e instabilidade, aprofundando as assimetrias sociais em que vivemos hoje. Logo, não temos qualquer esperança no trabalho que o candidato destacado por vós, para defender de forma efetiva e nobre todos os açorianos a curto, médio ou longo prazo.

Existe uma fragmentação entre o discurso do governo, que defende a nossa ZEE e a realidade, com falta de ações na sustentabilidade ou na fiscalização da zona marítima.

Como é que as vossas causas, relacionadas com a defesa das pessoas, dos animais e da natureza, podem beneficiar do estatuto de ultraperiferia consagrado para os Açores?

Como já foi explicado, os pilares do PAN, fundamentais para uma sociedade justa e inclusiva, passam pela saúde, soberania alimentar, independência energética e também pela educação ambiental e política, bem como pelo bem-estar animal e defesa ecossistémica. E essa distribuição de prioridades transfere-nos para um patamar de robustez autonómica que, geopoliticamente favorece-nos, mas imprime também um sentido de segurança futura e visão colaborativa que não vemos nos outros partidos.

Os candidatos do PAN pelos Açores na visita a Porto Pim na ilha do Faial

Não se pode potenciar turisticamente a sustentabilidade dos nossos ecossistemas marinhos quando se pensa em acordos com privados para a mineração do mar.

O debate sobre a Europa nos Açores está muito centrado nas questões de sempre, como é o caso do leite e vacas. Outros assuntos muito importantes como o mar, o ambiente, alterações climáticas, educação e novas tecnologias têm tido a atenção que merecem?

O que demonstra logo que existe uma visão redutora das potencialidades e necessidades em transportar uma nova mensagem política para garantir uma coerência na intervenção setorial da Região. A proposta do Conselho Europeu para a nova Política Agrícola Comum (PAC) quer contribuir com 40% da sua dotação financeira global para os objetivos em matéria climática, dando importância na sustentabilidade ambiental e nas alterações climáticas, bem como ajudar os agricultores a anteciparem a evolução dos hábitos alimentares e a adaptarem a sua produção em conformidade com os sinais do mercado. De uma forma contraditória, vemos candidatos de outros partidos a promoverem e a forçarem reformas não previstas e reservas financeiras para a nova PAC.

Não vemos é como o candidato do PS poderá ser a voz dos açorianos e defender a Região como ela merece ser defendida, quando parece é representar o lobby do leite.



Em termos marítimos, tem que existir um papel mais protecionista do nosso Mar. Neste momento, existe uma fragmentação entre o discurso do Governo Regional, que defende a nossa Zona Económica Exclusiva (ZEE) dos Açores e a realidade, com falta de ações concretas na sustentabilidade ou na fiscalização da zona marítima. Não se pode potenciar turisticamente a sustentabilidade dos nossos ecossistemas marinhos quando se pensa em acordos com privados para a mineração do mar profundo. Ou mesmo a anacronia entre promover a observação de tubarões e outras espécies e a sua captura massiva ao mesmo tempo. Urge aumentar a coerência nas ações realizadas enquanto temos que diminuir a subserviência, tanto na “gestão partilhada” com o governo central, como quando deparamos com pressões externas com um intuito unicamente extrativista na maior zona económica exclusiva de Portugal.

Basta olhar para os índices de pobreza divulgados pelo INE (…) para verificarmos que a estratégia e gestão do governo está a ter consequências destruidoras nas famílias.

O PAN considera que os Açores têm sido bem defendidos no Parlamento Europeu ao longo dos últimos anos? O que falta fazer?

Se alguém teve uma visão mais holística dos reais problemas na Região, esse alguém foi o ex-Eurodeputado independente, Ricardo Serrão Santos, que ocupa o terceiro lugar na lista dos eurodeputados portugueses mais influentes no último mandato. Lamentavelmente e apesar da sua boa prestação, foi substituído. Temos que providenciar uma vida melhor para todos de forma mais equitativa. No PAN, trabalhamos para sermos parte integrante e ativa desta transição, de modo a implementarmos e construirmos soluções realistas e audazes, colaborativas e de longo prazo. É tempo de garantirmos um debate real em torno dos problemas estruturais que assombram a nossa região e que estão intrinsecamente ligados a uma economia baseada na dívida, na monocultura, no crescimento extrativista ilimitado, na destruição dos ecossistemas, na falta de soluções para uma melhor redistribuição da riqueza, para combater estruturalmente a pobreza e (assegurar) a proteção de todos os animais.*

Logotipo do PAN para as Eleições Europeias 2019