Inundações em Lisboa: Debate de Atualidade

Intervenção do Deputado Municipal António Morgado Valente no Debate de Atualidade sobre as inundações em Lisboa:

“Acordámos na manhã do dia 13 de dezembro com dois apelos da Câmara Municipal: “Não venham para Lisboa!” e “Fiquem em casa, Lisboetas!”.

O cenário era de absoluto caos, tão grande ou ainda maior do que cinco dias antes, quando as inundações foram classificadas de fenómeno extremo com elevado grau de imprevisibilidade.

Nesse primeiro dia, até conseguimos perceber que, perante a imprevisibilidade da quantidade de chuva que caiu num curto espaço de tempo e com o consequente aviso tardio das entidades competentes, pudesse ter havido alguma descoordenação inicial do executivo, mas à segunda, já se torna mais difícil de entender …

E entre vias cortadas, ruas alagadas, comércios inundados, pessoas desalojadas, resgates efetuados e escolas fechadas, o sentimento da população era de total desnorte. Sem esquecer aqueles que foram deixados à sua sorte, pois segundo as associações que dão apoio à população em situação de sem abrigo, não havia qualquer plano de emergência ou resposta a ser dada a quem dorme na rua e não podia responder ao repto do “fique em casa”.

Só que esta também não foi a segunda vez em que se registaram grandes inundações na cidade se aqui relembrarmos as terríveis cheias de 1967, 1979, 2008 e 2014, entre muitas outras de menor amplitude, que se repetem quase anualmente. E foi precisamente para fazer face a estas cheias e inundações que começou a ser pensado o Plano Geral de Drenagem de Lisboa logo em 2008, mas só no passado mês foi elevado a “salvador” da cidade.

A obra invisível, que inclui a construção de bacias de retenção/infiltração e dois túneis que farão os percursos: Monsanto – Santa Apolónia e Chelas –Beato, tem um custo que não passa despercebido – 250 milhões de euros.

Mas se “para baixo, todos os santos ajudam”, prevendo-se que em 2025 já tenhamos chegado perto da zona ribeirinha, não esperemos que daqui saia um milagre!

É que o Plano Geral de Drenagem não contribui para a prevenção das já evidentes alterações climáticas, mas apenas minimiza as suas consequências. O maior esforço orçamental de sempre da Autarquia de Lisboa não resolve de forma definitiva este problema, e não nos esqueçamos que só na construção dos túneis já se calcula um desvio orçamental de 30 milhões de euros em revisão de preços.

É preciso mudar a estratégia como o PAN tem vindo aqui a insistir mês após mês.

É urgente uma inversão na forma de construir e privilegiar a reabilitação do edificado.

É urgente promover a infiltração da água nos solos, criar parques e lagos artificiais e apoiar soluções construtivas com sistemas de recolha e aproveitamento das águas pluviais!

E, por isso, não podemos deixar de voltar a insistir: é preciso corrigir partes essenciais do Plano antes do começo da obra, em março de 2023.

Um investimento desta envergadura deveria afirmar-se como um verdadeiro plano de gestão do ciclo da água em Lisboa, mas de nada servirá se continuarem a betonar a cidade, destruindo zonas verdes e abatendo árvores! Se queremos uma cidade livre de inundações comecemos por preservar e respeitar os espaços verdes, o nosso ambiente e o nosso planeta”.