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Mais um fait-divers

Esta semana na Assembleia Regional foi aprovada uma taxa turística nos Açores, medida que deveria ser consensual por ser fonte de receita, mas que foi alvo, ora de amplos elogios, ora de atitudes mais críticas. A taxa pretende reverter os fundos, arrecadados nas tarifas dos turistas desembarcados na Região por avião e por cruzeiro, para projectos de mitigação de fenómenos provocados por alterações climáticas que esbatam a pegada turística nas nove ilhas e de defesa do património da biodiversidade. O valor irrisório é de 1 euro e, do total, uma percentagem será entregue aos municípios. Porém, fez surtir um coro de opositores como se este montante afugentasse os turistas ou impedisse a implementação de outras taxas municipais ou de gestão de recursos locais, quando ainda terá uma redução de 50% em época baixa. 

As vozes que se indignaram pela sua prematuridade face à pandemia e à guerra esquecem-se que entra em vigor apenas em 2023, pode ser adaptada e que inclusivamente houve um aumento de cerca de 127% de janeiro de 2021 para janeiro 2022 em passageiros desembarcados por via área. Mais, se quisermos comparar com o ano de ouro do turismo regional, 2019, temos uma variação negativa de apenas 2,7% para o mês de março, mas um crescimento na ordem dos 134% relativamente a 2021. 

Estes dados põem em causa o discurso apocalíptico da secretária regional do turismo, que negava o sentido de oportunidade. O que a tutela do turismo tem de ter como especial preocupação é o difícil equilíbrio entre o que se publicita e aquilo que se oferece a quem nos visita, onde a taxa será a menor das preocupações para desincentivar o turismo. 

Os Açores têm sido alvo de uma campanha de promoção turística, a nível nacional e internacional, que nos últimos anos tem dado os seus frutos a ponto de transformar a região num destino de natureza. Sobretudo na época Pascal, nos meses de verão e início de outono, o fluxo de visitantes tem um aumento significativo, ainda que nem sempre acompanhado por uma resposta eficaz da SATA Açores, o que lesa obviamente sobretudo as ilhas de menor dimensão. Além de chegada pela via aérea são também relevantes os turistas que aqui vêm por via marítima, seja em embarcações de recreio, seja em navios de cruzeiro. Porém e ao contrário da maioria das vilas e aldeias costeiras continentais mais turísticas há algo de estranho no turismo regional, pelo menos em algumas ilhas. 

Convém até recordar que para abrir uma actividade, directa ou indirectamente, relacionada com o turismo é possível recorrer a dinheiros públicos e que, quando por qualquer vicissitude esta actividade diminui, como ocorreu com a Covid 19, os operadores recebem, e justamente, apoios estatais. Logo, supostamente existe um pacto implícito de, não só prestar devidamente o serviço para os quais receberam ajuda, como contribuir para a melhoria da nossa actividade económica. 

O que não se entende, ante isto e à exortação ao turismo com destino Açores, é que durante a época alta não se maximize tal actividade, o presumível lucro e não se preste um serviço condigno a quem nos visita. Vem isto a propósito de uns quantos cruzeiros que recentemente fizeram escala na Horta. Apesar da cidade estar plena de turistas, como tiveram a má sorte de atracar num fim-de-semana, seguramente e mesmo sabendo do facto, a esmagadora maioria dos locais de restauração, lojas de comércio, sobretudo com artesanato ou produtos agro-alimentares regionais e, imagine-se, edifícios e património públicos têm estado, como é habitual, na sua maioria, encerrados. Se a cultura fecha ao fim de semana, trata-se de uma gestão dos canais de acesso ao património simplesmente anacrónica. Por que motivo os dias de descanso têm que coincidir obrigatoriamente com os fins-de-semana e porque encerram quase todos no mesmo dia? Isto sim é nocivo para o turismo regional! O resto são fait-divers.