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Moby-duck: a saga do lixo marinho

Em 2007, parte da costa norte de França foi “invadida” por inúmeros patos de borracha. Os duckie ducks chegaram a este destino europeu depois de uma viagem de 15 anos à deriva no mar, quando em 1992 o contentor onde seguiam, a bordo de um navio que viajava pelo oceano Índico ter caído ao mar, durante uma tempestade.

Este acaso, que não é assim tão incomum (estima-se que, anualmente, uma média de 1382 contentores se perdem no mar), veio patentear o alcance das correntes oceânicas e demonstrar a circum-navegação do lixo em ambiente marinho.

Estudos efectuados no Atlântico Norte reportam que a nossa região encontra-se no bordo leste do giro onde as partículas de plástico se acumulam, considerando-se externa a proveniência de grande parte do lixo presente no mar dos Açores.

Mas não devemos, com isto, diminuir a nossa quota parte de responsabilidade neste problema e a sua proveniência em terra. Contribuímos de forma intencional ou por negligência para a poluição marinha. Basta ver o estado de muitas ribeiras locais, não só com imensos resíduos sólidos, plástico na sua maioria, mas também a serem depósito para descargas de efluentes agropecuários, as quais o PAN/Açores tem denunciado por diversas vezes.

A somar a todos estes estes resíduos que acabam por desembocar no mar, o lixo resultante das actividades comerciais marítimas, sobretudo as piscatórias, produz-se um significativo impacto nos ecossistemas marinhos e com consequente revide na saúde humana.

A presença de lixo marinho tende, a longo termo, a provocar alterações na estrutura comunitária das espécies, modificando o seu habitat original, com a introdução de agentes poluentes. As ameaças à vida marinha resultam principalmente do emaranhamento em cordas, linhas ou redes e da ingestão de detritos de plástico.

Os riscos que estas ingestões por cadeia resultam para a saúde humana são reveladores: já foram encontrados vestígios de microplásticos em vários órgãos e tecidos humanos, como no sangue, pulmão, cérebro e até mesmo na placenta.

Em sinergia com o que a gestão dos resíduos em geral, o ponto de partida do combate ao lixo marinho é a prevenção e foi com esse propósito que o PAN/Açores apresentou uma iniciativa, a ser discutida na próxima semana na Assembleia Regional, que propõe um conjunto de incentivos para a recolha, depósito e valorização do lixo marinho.

A Indonésia, país composto por um vasto conjunto de ilhas com também grande ligação ao mar, já aplicou uma medida semelhante à que o PAN agora propõe, ao compensar os pescadores pela recolha de resíduos marinhos. Esta medida surge perante as estimativas que indicam que até 2030 haverá mais plástico do que peixe no mar da Indonésia, se não forem promovidas ações para a sua remoção.

O envolvimento das comunidades piscatórias no combate à proliferação do lixo marinho é determinante, principalmente quando 27% desse lixo resulta de materiais de pesca. Para combater a proliferação destes resíduos, propomos como incentivos a troca de artes de pesca em fim de vida por biodegradáveis e a implementação de localizadores nas redes de pesca de forma a evitar a existência de «redes fantasma».

Não conseguimos controlar o lixo que nos chega pelas correntes, mas conseguimos controlar aquele que aqui produzimos e que do mar retiramos. E é nisto que nos devemos focar.