“O CDS é um partido negacionista que lida mal com a evolução e com a sociedade que está em movimento”

Debate entre André Silva e Assunção Cristas na RTP3

O debate deste sábado entre o PAN e o CDS foi tenso, com Assunção Cristas a atacar André Silva de extremismo, devido ao PAN acompanhar as recomendações da ONU sobre saúde, alimentação e alterações climáticas. Nos valores sociais, o CDS demonstrou um posicionamento demasiado conservantista, por oposição do PAN que acompanha uma sociedade adaptativa e em movimento. Assunção Cristas, que acusou o PAN de ser autoritário e ditatorial, rejeitou ser interrompida por André Silva quando estava a falar, mas passou a parte final do debate a interrompê-lo várias vezes, querendo substituir o jornalista e o porta-voz do PAN, fazendo perguntas e respondendo pelo próprio PAN, usando demagogia e presunção.

O debate começou com uma pergunta dirigida à presidente do CDS: o que falhou na direita ou especificamente no CDS, nos últimos anos, para a própria Assunção Cristas alertar contra o risco de a esquerda se tornar ainda mais dominante após as eleições de outubro? A líder do CDS optou por não responder.

Sobre as acusações ao PAN, André Silva argumentou que “o CDS lida mal com a evolução, com a sociedade que está em movimento, é um partido negacionista” com o que está a passar, por exemplo, com a crise climática e acusou os centristas de serem coniventes e estarem “capturados” pelos “interesses” das indústrias, como os produtores de carne e leite e exportadores de animais vivos. Segundo o líder do PAN, o que está a passar-se na Amazónia, a maior floresta tropical do mundo, com as queimadas e incêndios, também é explicado com a necessidade de desmatar para se fazer a criação pecuária e recordou que a ONU tem feito várias recomendações para se reduzir o consumo de carne. A líder do CDS optou por usar números errados e afirmou que o problema do desmatamento era devido à produção de soja para alimentação dos vegetarianos. Por sua vez, André Silva acusou a líder centrista de “faltar à verdade” por promover a “ideia falaciosa” da soja constituir a base da alimentação vegetariana – quando “90%” da sua produção se destina à produção de rações para o gado.

Nas contas públicas do país e “ao contrário do CDS que quer dar tudo a todos, não propomos baixar todos os impostos com contas que têm sido demonstradas que nos podem conduzir a uma situação calamitosa financeira. O que propomos é que, independentemente das propostas que tenhamos, há sempre um princípio norteador que se prende com o equilíbrio das contas, com a boa gestão dos dinheiros públicos”, afirma André Silva. “O PAN olha para os cenários macroeconómicos, que apontam para um eventual abrandamento do crescimento económico e, com isso, aponta para o défice máximo de 0,5% sem excedentes orçamentais porque conseguimos cumprir aquilo que são as regras orçamentais da União Europeia, reduzir o peso da dívida e conseguir ter mil milhões de euros para acomodar esses tais benefícios fiscais que queremos dar e fazer investimentos públicos de elevada qualidade.”


“O PAN defende a valorização salarial dos médicos do SNS e aposta na prevenção na saúde” – André Silva

O porta-voz do PAN continuou afirmando que “já vimos o CDS prometer a redução de impostos e uma vez no Governo aumentou-os”. “São precisos novos actores e novas propostas e o CDS tem contribuído para degradação do país”. A saúde, disse, é um exemplo – o que permitiu a Assunção Cristas enveredar por um caminho que lhe é fácil: “autonomia ao SNS, onde investiria bastante mais que o actual”. André Silva, sobre a matéria, afirmou que “a falta de investimento de há duas décadas, leva a crer que o objectivo do CDS é descapitalizá-lo.O CDS quer retirar rendimento às famílias para financiar o sector privado da saúde”.

Na área da Saúde, a ideia que fica sempre dos posicionamentos do CDS é que esta é uma área de negócio para o partido centrista, por oposição a uma perspectiva do PAN em que Portugal deve ter serviços públicos de alta qualidade, universais e tendencialmente gratuitos, em que aposta deve ser feita na prevenção da doença e na promoção da saúde e bem-estar, que o CDS não acompanha. Para o PAN é fundamental apostar em políticas que evitem a chegada de doentes aos hospitais.

O PAN defende “a valorização salarial dos médicos do SNS e aposta na prevenção. Devemos seguir os conselhos da Organização Mundial de Saúde no sentido da prevenção, como por exemplo, as carnes processadas que são cancerígenas. O PAN apresentou uma proposta para que as carnes processadas sejam retiradas das cantinas públicas, o CDS chumbou. Propusemos também uma medida para acabar com o leite com chocolate nas escolas, o CDS chumbou e propusemos ainda uma terceira medida que visa retirar e restringir alimentos prejudiciais das máquinas de venda automática das escolas e o CDS também chumbou.”


“Nós [Estado] não temos acompanhado as carreiras dos professores de forma digna” – André Silva

O deputado do PAN criticou ainda o desinvestimento na saúde entre 2000 e 2017, período que “atravessa vários governos”, incluindo do CDS, revelado por um relatório recente, e acusou os centristas de tentarem “drenar” o Serviço Nacional de Saúde (SNS), incluindo com a proposta de “abrir” a ADSE a todos. Quando os funcionários públicos descontam 14,5% do seu vencimento bruto, face aos 11% dos trabalhadores do privado, os trabalhadores no público não só descontam para ter um subsistema de saúde que lhe permitam ter acesso a alguma qualidade de saúde, como ajudam a financiar o SNS, para além de pagarem também taxas moderadoras. – Conclui-se assim que esta medida constituiria um agravamento da despesa das famílias, uma vez que os privados que aderissem a este subsistema de saúde passariam a pagar 14,5% para o acesso à saúde e não os 11% que pagam actualmente.

Na educação André Silva ressalvou que “nós não temos acompanhado as carreiras dos professores de forma digna. Há uma enorme sobrecarga dos professores, quer na componente lectiva, quer não lectiva. Cerca de 60% dos professores estão em situação de burnout e há que criar mecanismos para reduzir conteúdos nas salas de aulas, porque estamos a falar de uma subcarga imensa. O que nós estamos a implementar é uma escola fábrica, em que os alunos são desde cedo, como o CDS defende e gosta, estimulados para a competição, estimulados para serem os melhores. Nos últimos anos do liceu vivem só e apenas para o seu desempenho cognitivo porque é o único factor de acesso ao acesso superior. Nós defendemos que as universidades possam encontrar outros critérios para além dos resultados dos exames para poderem fazer as suas escolhas.”

André Silva finalizou o debate constatando que “O que disse Assunção Cristas é uma demagogia total. O CDS vem com propostas que o PAN já apresentou e que chumbou durante esta legislatura, como é o caso da natalidade, demografia. O CDS vem prever a licença da parentalidade até um ano, o PAN fez precisamente essa proposta, o CDS chumbou. Relativamente ao aumento de penas para crimes de violação, violência doméstica e incêndio o PAN fez essa proposta. E o CDS não as acompanhou. Nós temos uma proposta muito clara que se prende com a revisão do Código Penal para a revisão de penas, ao contrário do CDS que dispara números. É constituir de forma responsável, ao contrário do CDS, de forma moderada, –  e não fundamentalista como os senhores são – , uma Comissão para rever o Código Penal. Ao contrário do CDS, que não tem uma linha sobre apoio emocional e saúde mental, o PAN tem várias propostas de apoio psicológico.