Nos últimos anos, a saúde mental, especialmente no contexto pós-pandemia, emergiu como um dos maiores desafios da sociedade contemporânea e, nos Açores, a realidade revela-se ainda mais alarmante. As estatísticas colocam-nos no topo da pirâmide, enquanto região com uma das mais elevadas taxas de suicídio, reflexo do parco investimento em políticas de saúde mental, que clamam por mudança.
Apesar de o caminho trilhado para desmistificar este assunto já ser considerável, a saúde mental permanece ainda envolta num manto de estigma e preconceito, perpetuando o sofrimento, sentimento de incompreensão e isolamento de quem, por receio ou vergonha, padece em silêncio.
O fenómeno assume especial expressão quando consideradas as características arquipelágicas, relacionadas com a periferia e ultraperiferia, que limitam o acesso a recursos de apoio e tratamento adequados, bem como as especificidades da vida insular, que exigem uma abordagem específica e sensível à realidade.
A parca literacia e escassez de medidas eficazes para a prevenção do suicídio nas políticas de saúde, sobretudo, mental, dificultam o reconhecimento deste fenómeno como um efetivo problema de saúde pública. Por conseguinte, desconstruir o estigma envolto a estas questões, através da promoção de uma cultura de aceitação e apoio, é o primeiro passo para quebrar este ciclo de sofrimento silencioso, abrindo espaço a um ambiente de segurança e conforto na procura de ajuda especializada.
Pese embora o PAN/Açores tenha conseguido aprovar a sua proposta para contratação de 20 psicólogos no Orçamento Regional para 2021, é preocupante a lacuna que se verifica na prestação de cuidados de saúde mental, em virtude do parco investimento na contratação de profissionais da área para o Serviço Regional de Saúde, associado a um modelo que não atende de forma adequada as necessidades da população açoriana. É, por isso, premente um maior envolvimento, que deve ser diário e contínuo, numa estratégia ajustada à realidade insular, com vista à redução das taxas de suicídio, reconhecendo-o como um problema de saúde pública.
O suicídio, em particular, não se trata de um acto isolado. É o resultado de um conjunto de factores psicológicos, biológicos, sociais e ambientais que, em muitos casos, permanecem invisíveis, por força de uma cultura de silêncio fruto do estigma da saúde mental que é significativamente maior no caso do suicídio. Este estigma alimenta o problema, conduzindo a fins trágicos. Por isso, impõe-se a necessidade de criar estratégias de intervenção imediata, com respostas rápidas disponibilizadas a alguém com ideação suicida.
O PAN/Açores defende, num projecto entregue ao Parlamento na passada semana, a criação de uma Estratégia Regional de Prevenção e Combate ao Suicídio abrangente e musculada, através de uma intervenção sistémica e integrada, de modo coordenado com medidas de combate e prevenção eficazes, acompanhada do reforço de profissionais em saúde mental.
Embora estejamos a assinalar o Mês da Prevenção do Suicídio, é importante alertar sobre este fenómeno nos outros 11 meses do ano, permitindo que cada voz se faça ouvir, numa sociedade empática e compassiva, em que a saúde mental não carregue o peso de estigmas e preconceitos.