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O futuro dos Açores não é liberal

No plenário desta semana fomos presenteados com uma declaração política que, num cosmos utópico, teorizou sobre os exemplos liberais nórdicos e da imperiosa necessidade de aplicar essas políticas à nossa região. O PAN escolheu abordar um assunto que não versou sobre a necessidade de replicar modelos económicos estrangeiros totalmente desajustados à idiossincrasia açoriana, nem sobre o mercado capitalista livre e sem regras, mas sim sobre o seu subproduto – a pobreza.

O risco de pobreza e desigualdade na distribuição dos rendimentos aumentou novamente nos Açores, enfraquecendo ainda mais a capacidade para combater as oscilações dos mercados globais ou decisões do Banco Central Europeu. Esse mercado liberal, que alguns dizem que nos vai libertar das amarras de um Governo social, é o mesmo mercado que está furioso pelo aumento do poder de compra do tecido laboral europeu.

Não podemos ignorar a realidade dura que muitas famílias enfrentam diariamente na luta contra a pobreza. Os Açores, região rica no seu potencial de coragem e bravura, não pode permitir que a desigualdade se intensifique e limite o potencial da maioria dos seus residentes.

A pobreza não é apenas uma questão económica, mas também uma questão social que afecta a dignidade humana. Ao combater a pobreza, estamos a trabalhar para criar uma sociedade mais inclusiva, empática e unida onde todos têm igualdade de oportunidades e uma vida digna. Para alcançar esse objectivo, são necessárias acções ousadas e uma abordagem holística, tanto pelo Governo e por todos os partidos políticos, como também de toda a comunidade açoriana.

Primeiramente, é fundamental investir em programas que promovam a educação de qualidade para as crianças açorianas. A educação é um pilar fundamental para capacitar os jovens a superar os obstáculos da pobreza e garantir um futuro melhor. Iniciativas que ofereçam assistência financeira e apoio na formação académica aos estudantes de baixo rendimento são essenciais para nivelar as regras do jogo.

Além disso, é necessário fomentar o empreendedorismo e criar um ambiente favorável para o crescimento económico. Incentivar o surgimento de pequenas empresas locais, oferecer formação e apoio para que os indivíduos possam iniciar seus próprios negócios são medidas que podem reduzir a dependência económica e fortalecer a base financeira da comunidade.

Também é importante fortalecer a rede de apoio social e garantir que todos tenham acesso a cuidados de saúde adequados. A pobreza muitas vezes está ligada a problemas de saúde, mais propriamente a mental, que podem agravar ainda mais a situação das pessoas em dificuldades financeiras. Investir em serviços de saúde e oferecer assistência médica acessível é essencial para aliviar esse pesado fardo.

Por fim, devemos promover uma cultura de solidariedade e apoio mútuo na nossa sociedade. Acções voluntárias da comunidade e organizações que trabalham com questões sociais são fundamentais para garantir que ninguém seja deixado para trás. Cada um de nós tem um papel a desempenhar para combater a pobreza nos Açores.

A luta contra a pobreza nos Açores é um desafio complexo, mas é possível superá-lo quando nos unimos e agimos de forma colectiva. Não podemos estar a fortalecer políticas como a lei da selva e da eugenia financeira para suportar ideologias e modelos teóricos neo-liberais que nunca funcionarão numa região ultraperiférica.

O futuro para os Açores não é modelo económico da Estónia, o futuro dos Açores não é liberal.