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Saúde pública: um ajuste de contas com a sustentabilidade

A alegada coexistência de um “equilíbrio” entre a sustentabilidade ambiental e a agricultura no que concerne às descargas de afluentes na Praia do Monte Verde é profundamente questionável, considerando que se parte do pressuposto equivocado de que é necessário sacrificar a saúde pública em prol da garantia da viabilidade de prácticas agrícolas, quando, na verdade, a responsabilidade ambiental e a protecção sanitária devem caminhar lado a lado, sem concessões. 

A situação da Praia do Monte Verde há muito que se evidencia como um desafio urgente de saúde pública que afecta diariamente a população que reside nas áreas adjacentes. O odor insalubre, as alergias cutâneas e a proliferação descontrolada de insectos são sintomas de uma crise que exige uma acção imediata e testemunho irrefutável do impacto nocivo das descargas desreguladas, provenientes, sobretudo, da agropecuária. Qual será o preço da inacção? Até quando a população terá de suportar as consequências de uma gestão ambiental complacente? 

Defender a sustentabilidade não significa fechar os olhos à poluição do Mar dos Açores, nem subestimar os seus efeitos directos na saúde das pessoas. A tentativa de relativizar este problema, sob pretexto de um equilíbrio entre a produção agrícola e a sustentabilidade ambiental, evidencia um claro alheamento da realidade concreta da Praia do Monte Verde e dos desafios diários que se impõem. Qualquer abordagem que sugira um meio-termo quando se trata de saúde pública falha na sua missão fundamental, transformando o princípio intransigente da defesa da saúde num princípio negociável. 

Há muito que o PAN/Açores vem alertando que os métodos adoptados para enfrentar o problema das descargas de afluentes são ineficazes, deixando a população a viver na sombra de promessas vazias de uma procura activa de soluções que garantam o cumprimento das normas e leis definidas. Ocupar uma posição de responsabilidade requer coragem para combater interesses instalados, e comprometimento na compreensão da realidade que as comunidades enfrentam, sem o desvio de responsabilidades sob o escudo da importância do sector agrícola para a economia açoriana, à custa da saúde da população que sofre com as consequências de uma gestão ambiental permissiva. 

O progresso de uma região não se mede apenas pela força da sua economia, mas também pela qualidade de vida que oferece aos seus cidadãos.