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Touradas: Justificar o injustificável – Parte 2

A iniciativa do PAN que pretende pôr termo às touradas nos Açores esteve novamente em debate em comissão parlamentar.

À boleia da retórica utilizada pelo deputado do CDS com assento na Comissão, que reduz a iniciativa ao argumento ad hominem de que o PAN está a querer forjar um cavalo de Tróia, utilizando as crianças (pelo risco iminente e implícito a estes eventos) para acabar com as touradas, o representante da Associação de Tertúlias Tauromáquicas de Portugal decidiu centrar o seu contributo na inexistência de uma correlação direta entre a presença e visualização de touradas, por crianças e jovens, e aumento da criminalidade.

O orador, que já foi acusado de instrumentalizar uma revista científica para defender a tauromaquia, tendo sido apupado pelos seus pares por essa conduta, decidiu enveredar a sua exposição por esse caminho argumentativo, fazendo ainda recurso a estudos já datados e com uma amostra muito pouco representativa para distar a tauromaquia dos efeitos nefastos provocados a crianças e jovens.

Esta tentativa de correlacionar a actividade tauromáquica com o índice de criminalidade nunca esteve em debate nem foi de todo argumento utilizado pelo PAN na exposição de motivos para propor o fim das práticas taurinas.

Na exposição de motivos, o que o partido alude, e fazendo menção ao posicionamento do Comité dos Direitos da Criança das Nações Unidas da ONU e ao parecer da Ordem dos Psicólogos Portugueses, é ao impacto psicológico da exposição de crianças à violência, nomeadamente a normalização e dessensibilização para a violência.

Esta associação não vaticina que as crianças e jovens venham a enveredar por uma matriz comportamental de violência ou de criminalidade. Em adição ao impacto psicológico subsiste ainda a exposição ao perigo quando se promove e permite que crianças e jovens participem activamente em eventos desta natureza. 

Já o Presidente da Câmara do Comércio de Angra do Heroísmo, chamado a pronunciar-se na Comissão, afirmou que “Há aqui um requinte nesta iniciativa que me choca, que é o requinte de proibir esta atividade às crianças”

A insensatez e insensibilidade de quem não lhe choca os requintes de   perversidade decorrentes do gáudio em infligir e ver o sofrimento e a crueldade imposta a um animal, nem tão pouco a exposição de crianças ao perigo, mas sim a de proibir que crianças possam assistir e participar nestes “espetáculos”, para salvaguarda da sua integridade física e mental.

Mais uma vez, no decorrer das audições, o principal propósito da iniciativa – acabar com a crueldade e sofrimento animal – esteve quase sempre aleada do cerne da discussão.

A iniciativa do PAN será provavelmente votada no plenário de Setembro e, à semelhança dos touros, tem já o seu triste fado marcado à nascença. Esta iniciativa está também, como os touros na arena, ferida de morte, pelos lobbies da tauromaquia e pela insensibilidade de quem não vê ou quer ver a imoralidade de infligir sofrimento aos animais, apenas para fins de entretenimento.

Até quando se permitirão compactuar com o sofrimento animal em nome da cultura, tradições e “bons” costumes (e do garante dos votos)!?