A palavra de ordem é abstenção quando se fala em Eleições Regionais. Há 48 anos que se realizam eleições nos Açores e, na maioria dos actos eleitorais, a Região destacou-se politicamente de forma negativa com a mais alta taxa de abstenção do país. Em 2016, 59,2% dos eleitores abstiveram-se e em 2020 a taxa fixou-se nos 54,6% – mais de metade da Região Autónoma dos Açores não votou para eleger a sua Assembleia Legislativa e, por conseguinte, os governadores durante os anos que se sucederam. Precisamos recuar até 2004 para aferir uma participação eleitoral superior a 50% em eleições regionais ou até 1999, em que se registou uma abstenção inferior a metade dos eleitores inscritos em eleições legislativas: 49,7%.
De acordo com um estudo realizado pela Universidade dos Açores a uma amostra de 720 açorianos, as razões por detrás deste enfraquecimento na participação política devem-se aos governantes, partidos, deputados, à falta de interesse e ao não incentivo educacional em cultivar o tema junto dos jovens. Durante os últimos três anos, e numa tentativa de combater este flagelo, o PAN tem praticado uma política de proximidade, ao dar voz às necessidades das camadas mais jovens, que muitas vezes são descartadas, por possivelmente serem tidas como os “eleitores menos votantes”. A par disso, é também importante desmistificar certas crenças relativamente à política, frequentemente vista como um tema aborrecido ou difícil de compreender, em parte pela linguagem abastada que tende a ser utilizada por quem dela faz parte.
Parte desta abstenção, creio, deve-se também à crescente mobilização dos jovens para fora da região, para estudar ou trabalhar, que faz com que grande parte das vezes não se encontrem na sua área de residência aquando de actos eleitorais. Ora, como sabemos, esta situação implica necessariamente um voto antecipado, que muitas é tido como um “bicho papão” pelas dificuldades e burocracias que implica(va). Felizmente, as novas tecnologias vieram desburocratizar a democracia e simplificar processos como este. Atualmente, votar antecipadamente implica apenas a transmissão de dados pessoais como nome, data de nascimento, morada, número de CC e endereço de email.
Além de simples, o voto antecipado fortalece a democracia ao expandir a participação cívica, promovendo uma maior inclusão e acessibilidade no processo?eleitoral. A inutilidade que associamos à não votação é idêntica à decisão de não agirmos pelo Planeta, por pensamos que “os outros o fazem”. Talvez esse tipo de pensamento seja a razão pela qual a política se estagnou durante 20 anos e continuará a percorrer o mesmo caminho. Talvez a mudança que todos ambicionamos comece por nós.