Na mesma semana em que é divulgado o relatório do INE que revela, sem grandes surpresas, que nos posicionamos no fundo da tabela dos indicadores de competitividade, da coesão e da pobreza, o executivo regional torna público que dará seguimento à aquisição do Campo de golfe da Ilha Terceira e do passivo deixado pela associação que o geria.
Depois de em 2018 o Governo ter retomado à sua alçada os campos de golfe de São Miguel, na Batalha e Furnas, pela módica quantia de 7,4 milhões de euros, teremos agora, novamente, o Governo a comprometer mais 3,8 milhões de euros públicos para, através da sociedade Ilhas de Valor, S.A., assumir a posição contratual do Clube de Golfe da Ilha Terceira.
Na Resolução que oficializa o acto, pode ler-se que “O Governo Regional dos Açores está comprometido em desenvolver um conjunto de políticas e ações orientadas para o crescimento equilibrado das diversas parcelas que integram o espaço territorial da RAA”. O único crescimento que se afigura neste caso particular é o da dívida pública, que já se encontra bastante desequilibrada.
E isto acontece ulteriormente às ações encetadas em 2020 pela Ilhas de Valor, S.A. para promoção da venda junto de potenciais interessados, tanto a nível nacional como internacional.
A julgar pela manutenção dos dois campos de São Miguel, e a agora aquisição do campo da Terceira, e do passivo subjacente, os potenciais interessados ficaram-se por isso mesmo: pela potencialidade. Como defendem e afirmam os liberais (apesar de nesta situação estarem mudos) “é o mercado livre a funcionar”.
Ainda que os Açores reúnam as condições ideias para a prática de golfe, convenhamos que este é um desporto de e para um nicho, e que não assume grande representatividade nos Açores, nem mesmo na sua vertente turística.
Excluindo obviamente o ano de 2020 e parte de 2021, pelas razões sobejamente conhecidas, a verdade é que nem o turismo valeu à rentabilidade dos três campos de golfe da região, apesar de reiterarem-no como posicionamento estratégico.
O actual Secretário Regional das Finanças, Planeamento e Administração Pública afirmou que desde 2018, os campos de golfe da região têm assumido resultados negativos em consequência “de um nível de actividade muito reduzidos face à sua estrutura de custos” acrescentando ainda que o volume de negócios não tem sido suficiente para, sequer, cobrir os custos afectos aos profissionais que aí trabalham.
Somando-se a todas as conhecidas intervenções governamentais, acresce-se agora esta, fazendo resultar numa herança cada vez mais pesada e que se torna num buraco sem fundo e, aparentemente, fim à vista. Somos uma região pobre, mas que tende a viver como se fosse rica, na óptica de acção e escolhas dos seus sucessivos governos.
O montante já “investido” nos três campos de golfe, em cerca de cinco anos, ascende aos 10 milhões de euros. 10M€ que poderiam ser canalizados para áreas como a saúde e educação, ou para a associações de real interesse e utilidade pública, como o caso das Associações de Bombeiros.
Aos habituais 18 buracos dos campos de golfe, temos agora um 19º buraco, que é deixado ao erário público, já sobrecarregado, e que tem como único beneficiário uma associação de direito privado. Isto de jogar com os tacos dos outros, não custa…