O Geoparque Açores integra, desde 2013, a Rede Europeia e Global de Geoparques, um reconhecimento patrimonial que concede uma valorização do “geoproduto” regional e o seu valor identitário. Corresponde a 13 000 Km2 de área, incluindo todo o cenário marinho, mas também valores culturais de referência, como património edificado, etnográfico e imaterial.
Possui 121 geossítios dispersos pelas 9 ilhas que constituem uma expressão da geodiversidade do arquipélago, salvaguardando uma memória geológica. Entre eles temos locais icónicos no Faial como o Monte da Guia e Porto Pim, Caldeira ou Vulcão dos Capelinhos.
A classificação não é meramente formal e acarreta obrigações por meio de aplicação de políticas públicas estratégicas.
Os objectivos destas estratégias devem priorizar a integridade natural e ambiental; a significância científica, cultural, geológica, paisagística e histórica através de mecanismos para a educação patrimonial destes núcleos de memória da terra. Os geoparques são exemplos de como a conservação ambiental deve incluir a geoconservação e de como o turismo e o crescimento sustentável devem ter um papel relevante.
Há uma semana, o Geoparque dos Açores recebeu um cartão amarelo após uma reavaliação por parte da UNESCO e tem 2 anos para ultrapassar as falhas encontradas.
Simultaneamente, em visita oficial aos Estados Unidos, o Presidente do Governo Regional, numa tentativa de aproximação semântica, apresentou os Açores como land of hope and opportunities, uma Terra Dourada no meio do Atlântico, autêntica promessa de riqueza para o investimento económico.
Curiosamente, o discurso resvalou para a verdadeira “galinha dos ovos de ouro”, expressão usada por José Manuel Bolieiro para caracterizar a natureza e a riqueza que pode proporcionar em termos turísticos.
Enquanto aspirante a “terra de muito futuro”, os Açores não podem esquecer o seu verdadeiro tesouro e para estarem aptos a ultrapassar constrangimentos demográficos, indicadores de pobreza, insegurança e de metas ambientais constrangedores devem conseguir conservar a sua natureza e biodiversidade e a sua riqueza cultural, tamponando o limite da capacidade de exploração.
No fundo, a Região deve munir-se das ferramentas para usar o património, promovendo o desenvolvimento económico sustentável da comunidade local, principalmente através do turismo sustentável, educativo e informado. Neste âmbito, todos os aspectos do património natural e cultural devem estar integrados, sendo esse o grande desafio do Geoparque Açores – já que um geoparque não é apenas geologia, incide sobre a educação para a preservação e integração do património material e intangível.
Essa educação passa por garantir que as populações saibam que muitos projectos económicos podem colocar em risco a preservação e integridade ambientais.
É fundamental que os responsáveis pela preservação consigam, através da literacia, em conjunto com associações e agentes económicos e empresariais, potenciar o diálogo com as comunidades.
Só dessa forma poderemos alcançar um turismo sustentável, não massificado, informado e com programas que apostem no ecoturismo e turismo regenerativo.
O cartão amarelo pode proporcionar uma conjuntura para refinar a percepção da complexidade que nos rodeia e realizarmos que somos parte de um todo, integrados na natureza. Este é o papel principal dos geoparques: proporcionar às sociedades um efeito integrador, através de uma forma distinta de olhar a natureza, encarando-a como um organismo vivo e não um meio para um fim para extracção e esgotamento de recursos. Esta é a verdadeira riqueza dos Açores, um património cultural e natural que as comunidades devem reconhecer e vivenciar, mas que pode sucumbir ante um fluxo turístico desagregador.