Não é novidade que é intenção do PAN pôr fim às touradas e acabar com estas práticas anacrónicas que, à luz da sociedade actual, esbarram com os mais elementares valores e princípios morais. Não temos uma agenda escondida. Sabemos o que queremos e ao que vamos. Há cerca de um ano o
PAN/Açores entregou, na Assembleia Regional, um Projecto de Decreto Legislativo Regional que
determina o fim das touradas e prevê apoios aos trabalhadores e a reconversão das praças de touros.
Esta semana, no âmbito da apreciação da iniciativa em Comissão Parlamentar, foram ouvidas a Tertúlia Tauromáquica Terceirense (TTT) e a Associação Regional de Criadores de Toiros de Tourada à Corda, tendo ambas as entidades se socorrido dos mesmos argumentos, já amplamente utilizados pelos aficionados, para justificar a importância da indústria tauromáquica: tradição, cultura, preservação da espécie e contribuição para o PIB Regional.
Estes argumentos são facilmente desconstruídos e rebatidos. O estatuto da tradição não pode servir para perpetuar a sua existência. Basta olharmos para a realidade actual de países com forte tradição taurina, como o México, a Colômbia e Espanha, que têm vindo, gradualmente, a desvincular-se destas práticas. No México foi proibida a realização de touradas na maior praça de touros. E Espanha o Canal Toros encerrou a sua emissão ao fim de 30 anos. Mas talvez a conquista mais expressiva, e que demonstra que a cultura e as tradições adaptam-se ao progresso da civilização e que por ser tradição não é intangível, foi a conseguida na Colômbia, com o Senado a aprovar por ampla maioria um Projecto de Lei para acabar com as touradas no país.
Voltado à realidade açoriana, e falando agora sobre o impacto económico e financeiro do sector, disseram os representantes destas entidades que a tauromaquia tem um peso importante no PIB dos Açores e que na ilha Terceira chega a representar 11%. Quando solicitados a explicar como
atinge esse valor percentual, não souberam concretizar, alegando tratar-se de ganhos indiretos e
não propriamente decorrentes diretamente da actividade.
Aliás, foram claros quanto à (in)capacidade financeira do sector. “Nenhum ganadeiro ou criadores de gado bravo o é por questões económicas. É impossível, porque não são sectores rentáveis”. Não sou eu que o digo, é a representante da Associação de Criadores.
Mais, os principais participantes nas touradas, sejam as de praça ou de corda, fazem-no de forma amadora, sem qualquer vínculo laboral, pelo que também se extingue o argumento de que a abolição das actividades tauromáquicas irá conduzir a situações de amplo desemprego.
A indústria tauromáquica apenas sobrevive pela injecção de dinheiros públicos no sector. Apenas a
título de exemplo dou nota dos mais de 150 mil euros de apoios dados em 2020 aos ganadeiros, conforme consta no relatório e parecer sobre a Conta da Região Autónoma dos Açores, do Tribunal
de Contas.
A nível autárquico, houve anos em que o financiamento da CM de Angra do Heroísmo consignado à TTT chegou a ser em mais de 100 mil euros superior ao investimento previsto para a Ação Social
desse município.
Até quando irá o erário público ser sobrecarregado para financiar a crueldade e o sofrimento
animal!? Até quando se irá continuar a justificar o injustificável!?